PRAMANTHA – CAUSA E IMPULSO DO CONHECIMENTO HUMANO DURANTE UM CICLO CIVILIZATÓRIO

PRAMANTHA – CAUSA E IMPULSO DO CONHECIMENTO HUMANO DURANTE UM CICLO CIVILIZATÓRIO

Sansuke Watanabe

Pramantha com base retangular.

Origem do termo pramantha

A palavra pramantha é um termo sânscrito que designa um acessório de madeira na forma de haste vertical utilizado pelos brahmanes para produzir o fogo sagrado através da sua fricção com o aranî, uma base horizontal também de madeira em formato circular e com um furo central, onde se encaixa o pramantha. Entretanto, não é somente com este significado elementar que a palavra Pramantha costuma ser utilizada no Colégio Iniciático Eubiótico.

Aproveitando a ideia de fogo gerado pelo atrito entre duas peças, o Professor Henrique José de Souza – fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose – passou a empregar o termo Pramantha com um sentido figurativo muito mais amplo. O sentido que ele atribuiu ao termo está mais próximo de significados como ciclo, período, tônica, atividade, movimento, construção, estado de consciência ou mesmo trabalho. Diante disso, a pergunta é: de que maneira conceitos aparentemente tão diversos podem estar integrados em uma única palavra – Pramantha – cuja definição original é ainda menos afinada com estes conceitos que acabamos de relacionar?

A dinâmica do pramantha

Responder à pergunta acima exige a montagem de um pequeno quebra-cabeça. A primeira peça dessa montagem é lembrar que a evolução humana ocorre segundo duas vertentes: uma material (ou horizontal) e outra espiritual (ou vertical). A evolução material diz respeito aos avanços conquistados pelo homem através do emprego da sua inteligência na transformação da natureza exterior. Por exemplo, os avanços da ciência, da tecnologia, da construção civil, dos meios de transporte, das telecomunicações, da medicina, entre inúmeros outros. Por outro lado, a evolução espiritual está relacionada aos avanços conquistados pelos indivíduos que empregam a sua inteligência na transformação de si mesmos ou, em outras palavras, na transformação da sua natureza interior, buscando um equilíbrio contínuo e cada vez mais aprimorado entre os seus atributos mentais e emocionais.

A segunda peça do quebra-cabeça é lembrar que, ao longo das idades, as inspirações e conhecimentos que favorecem a evolução vertical humana tem sido concedidos pelos Seres de estirpe espiritual mais avançada e que, exatamente por esta razão, atuam como Guias, Instrutores ou Orientadores da humanidade. Tratam-se dos Avataras que, como Veículos da Mente Cósmica Universal, manifestam-se ciclicamente tanto na forma de Manus condutores de povos, quanto na forma de Reveladores da Sabedoria Universal ou Gupta-Vidya. Assim, fazendo uso de uma analogia, pode-se representar de maneira figurativa o trabalho da descida, Revelação ou Orientação Avatárica com a haste vertical do Pramantha.

A terceira peça é o fato de que para que um novo estado de consciência se objetive em uma civilização, não é suficiente que entre em atividade apenas o trabalho da haste vertical do Pramantha, ou seja, da Revelação Avatárica. De fato, para que esta Revelação converta-se em um efetivo estado de consciência e atividade civilizacional é necessário que a própria Humanidade coloque em atividade – através do seu próprio empenho – esta Suprema Orientação ao longo da direção horizontal. O ponto crucial aqui é compreender que não compete aos Avataras ativar a haste horizontal do Pramantha. Esta tarefa compete aos homens e exige trabalho. Portanto, um dos graves erros que uma grande parcela da Humanidade tem cometido ao longo dos tempos é acreditar que as transformações civilizacionais devem ocorrer através de alguma forma de “milagre” ou “imposição” das Hierarquias Superiores em atendimento às “súplicas” e “orações” das pessoas.  

Pelo exposto, podemos concluir que para o alcance de um estado civilizacional espiritualizado é necessário um compromisso de trabalho entre Deuses e Homens. Com efeito, os Deuses ou Avataras fornecem a tônica de um novo ciclo através de suas Revelações, ou seja, ativam a haste vertical. Por sua vez, os Homens devem fazer uso dessas Revelações para ativar a haste horizontal de uma forma construtiva, ou melhor dito, no sentido de Dharma. Isto significa que a evolução horizontal humana (científica, tecnológica, etc.) deveria ser idealmente pautada pelos princípios espirituais revelados e inspirados pelos Avataras. Somente dessa forma uma civilização pode caminhar em direção à evolução e não à destruição, como temos visto. Na prática, isto representa o estabelecimento de novos modelos de pensamentos e sentimentos, de novos paradigmas, de ideias criativas, inovadoras e postas em atividade a serviço da felicidade e do melhoramento de todas as pessoas, sob a inspiração da tônica revelada pelo Manu.

Com isso, podemos dizer que Pramantha é um ciclo de trabalho evolutivo realizado pela atividade solidária das duas vertentes, uma de origem Divina e a outra de natureza Humana. Com efeito, a haste vertical (Revelação) fricciona a haste horizontal gerando o fogo que deve iluminar e inspirar a evolução humana. Esta ação combinada das duas hastes de trabalho produz um movimento civilizacional que deve sempre ocorrer em direção a um melhoramento e ampliação do estado de consciência das pessoas. Logo, em todas as eras, o Pramantha é vivo e reflete o conjunto das ideias ou estado de consciência-atividade vigente. Como todo processo evolutivo é cíclico, os Pramanthas sucedem-se ao longo das idades, renovando as suas tônicas e recriando novos estados civilizacionais.

O Pramantha é um ciclo civilizatório

Como vimos, um Pramantha é um ciclo de trabalho evolutivo realizado pela atividade solidária de duas frentes de ação: uma que se ocupa da Revelação do Conhecimento Primordial e outra que converte esse conhecimento em uma realização civilizatória. Esta ação combinada das duas frentes de trabalho produz um movimento cultural ativo que sempre ocorre em direção ao melhoramento e ampliação do estado de consciência das pessoas. Logo, em todas as eras, o Pramantha é vivo e reflete o conjunto das ideias ou estado de consciência-atividade vigente. Como todo processo evolutivo é cíclico, os Pramanthas sucedem-se ao longo das idades, renovando as suas tônicas e recriando novos estados nas civilizações.

Em cada Pramantha, existem tônicas setenárias ou áreas do conhecimento humano a serem trabalhadas na civilização.  Chamam-se essas áreas de As Sete Tônicas do Pramantha. Além disso, existem grupos de Adeptos que se encarregam de ativar essas tônicas na civilização, realizando um trabalho de tradução, tessitura ou ponte entre os conhecimentos revelados pelo Manu Primordial e preservados nas Sagradas Instituições e Santuários da Terra e as áreas do conhecimento e atividade humana. A esse conjunto de Adeptos e suas frentes de trabalho costumam-se chamar de as Sete Linhas do Pramantha. Por exemplo, as Sete Linhas do Velho Pramantha são identificadas pelos nomes de Hilarião, Morya, Kut-Humi, Serapis, Rakowsky, Nagib e Ab-Allah. Esses nomes não designam personalidades individuais, mas, sim, coletividades de Adeptos.

As Sete Tônicas do Novo Pramantha

O Novo Pramantha, ativo desde a segunda metade do Século XX, tem como finalidade impulsionar a ativação do quinto estado de consciência humano, ou seja, a ativação do mental abstrato ou superior (Manas Taijasa) conjugado com a intuição (Budhi Taijasi). Costuma-se também chamar esse estado superior de consciência de Inteligência Mercuriana, exatamente por tratar-se de um novo ciclo regido pelo Buda ou Deus Mercúrio.

As Sete Tônicas do Novo Pramantha são: alquimia, artes, ética e política, ciências físicas, línguas e literatura, religiões e filosofias e teurgia. É importante mencionar que cada um dos nomes que identificam estas tônicas são referências a grandes áreas do conhecimento humano e não devem ser interpretados de maneira restrita. Por exemplo, quando falamos de alquimia isto não significa necessariamente os procedimentos lendários dos antigos alquimistas, mas refere-se a todo o conhecimento abrangido pela química e ciências afins como o estudo da estrutura da matéria, o desenvolvimento e síntese de novos materiais, dentre outros. Além disso, também se refere aos processos alquímicos sob a perspectiva da autotransformação e melhoramento contínuo de nossa própria natureza. Ou seja, a transmutação alquímica do chumbo em ouro não deve ser interpretada literalmente, mas como um simbolismo ao processo de auto aperfeiçoamento onde, através dos próprios méritos e esforços, o indivíduo transmuta o chumbo das suas tendências anímicas e primitivas no ouro da inteligência superior.

A Oitava Tônica do Pramantha e a Oitava Linha

A rigor, não existe uma oitava tônica do Pramantha. Portanto, esta expressão representa o modo de ativação das Sete Tônicas exigida pelo Pramantha atual. Ora, vimos que este novo ciclo evolutivo é orientado na direção do despertar e desenvolvimento do mental abstrato. Por sua vez, sabemos que o mental abstrato é sintético, integrativo, holístico e complexo no sentido de tecido junto, como bem define Edgar Morin. Por conseguinte, este deve ser o modo de ativação das Sete Tônicas, ou seja, um modo integral.

Isto significa que as Sete Tônicas do Pramantha não devem ser desenvolvidas e vivenciadas de forma isolada, fragmentada e desconexa. Ao contrário, devem ser compreendidas e realizadas de forma integral, buscando sempre os fios que tecem as entrelaçadas redes estabelecidas pelas suas inumeráveis possibilidades de conexões. Em outras palavras, a Oitava Tônica do Pramantha é a vivência integrativa e conectada das Sete Tônicas.

Portanto, vivenciar a Oitava Tônica é uma forma de manifestar o mental abstrato e a intuição no mundo processual e, assim, gradualmente, contribuir para a implantação de uma condição civilizatória portadora da Inteligência Superior ou Mercuriana, como já mencionado.  Em outras palavras, uma condição eubiótica. Assim, a ativação da Oitava Tônica do Pramantha aproxima o Quaternário da Hierarquia Humana do seu Ternário Superior, o que equivale a contribuir para a elevação desta mesma Hierarquia aos estados Bimânico e Atabimânico.

Os Adeptos das Sete Linhas do Novo Pramantha ainda estão em formação. Levarão ainda algumas encarnações em vidas humanas ao longo dos próximos séculos para que estas novas linhagens sejam completamente organizadas e estabelecidas, como foram as do Velho Pramantha citadas acima. Regra geral, os Adeptos das Sete Linhas continuarão a inspirar e a atuar no mundo externo, acadêmico, social e político como já o vem realizando com mais intensidade desde os anos 1900. Por sua vez, os Adeptos precursores da Oitava Linha deste Novo Pramantha voltarão ao cenário humano, regra geral, sempre em torno do Núcleo Manúsico. Isto é, estarão sempre vinculados aos Sagrados Ritos das Excelsas Ordens Iniciáticas que manterão sempre aceso na Face da Terra o Fogo da mais Suprema Espiritualidade que, como missão maior, promove de forma consciente a transformação da vida energia em vida consciência.

Em qualquer Pramantha, cabe sempre aos Adeptos da Oitava Linha zelar internamente pelos Símbolos Sagrados e promover de forma consciente a transformação das Revelações Manúsicas em Realizações Civilizatórias. Para isso, tomam sempre como pontos de contato as ativações das Sete Tônicas promovidas no ambiente externo pelo trabalho dos Adeptos das Sete Linhas. Neste Novo Pramantha, tanto os Adeptos das Sete Linhas ainda em formação (ambiente externo) quanto os da Oitava (ambiente interno), também em formação, são inspirados pelas Sete Excelsas Consciências que se encontram na regência evolutiva da Hierarquia Humana.

Tendências civilizatórias contemporâneas de manifestação da Oitava Tônica

Um necessário período de fragmentação do conhecimento humano, em busca das especializações, marcou o período que sucedeu a Revolução Industrial, principalmente, durante os Séculos XIX e XX.  Contudo, durante a primeira metade do Século XX, ocorreu uma intensa implantação das Sete Tônicas em todas as áreas do conhecimento humano de forma silenciosa e paralela, como preparação para a ativação do Novo Pramantha na segunda metade daquele Século. Como resultado, já nas últimas décadas do Século XX, ocorreu uma explosão do conhecimento humano em todas as áreas e uma aceleração tecnológica sem precedentes na história. Sem dúvida, o principal desses avanços foi o veloz desenvolvimento e popularização da computação. De fato, foi com computadores acessíveis e com o início da popularização da Internet no mundo que adentramos no Século XXI.

Esta acelerada explosão da computação e da eletrônica que brindou o início do Terceiro Milênio, entre inúmeros outros avanços, favoreceu uma revolução nas telecomunicações e proporcionou o que conhecemos hoje como era digital. Com efeito, o planeta encontra-se conectado em rede e a comunicação é instantânea. Essa conectividade sem precedentes na história das civilizações está provocando uma revolução no mundo em praticamente todos os setores da vida humana.  Novos paradigmas estão sendo estabelecidos nas áreas da tecnologia, ciência, comportamento, trabalho, economia, educação, administração, comunicação, política, saúde, artes, meio-ambiente, transportes, convivência, espiritualidade, apenas para citas algumas. Essa conectividade e todas as suas decorrências são uma das necessárias consequências da invisível ativação da Oitava Tônica do Pramantha, ou seja, a reintegração de todas as coisas.

Na filosofia, novos paradigmas como o pensamento complexo de Edgar Morin oferecem uma inovadora perspectiva sobre a qual podemos olhar e compreender o mundo de forma integrada e que se antepõe a uma visão empobrecida e fragmentada das coisas. O complexo, como define o próprio Morin, é aquilo que é tecido junto e isto é, genuinamente, uma clara expressão da Oitava Tônica. A Teoria Geral dos Sistemas desenvolvida pelo biológico austríaco Ludwig von Bertalanffy inspirou a Teoria Sistêmica da administração, bem como a abordagem sistêmica da psicologia, da qual o psicoterapeuta alemão Bert Hellinger é o principal expoente e disseminador da prática integrativa das Constelações Familiares. Exemplos evidentes de atuação da Oitava Tônica.

Na intersecção entre ciência, educação e filosofia, encontra-se aquele que talvez seja o conceito mais emblemático de realização da Oitava Tônica: o conceito de interdisciplinaridade. De fato, o que é a Oitava Tônica senão a abordagem interdisciplinar das Sete Tônicas? Os grandes problemas ou desafios contemporâneos não são mais passíveis de soluções oriundas de áreas fragmentadas. Ao contrário, são desafios que exigem uma abordagem integrada entre diferentes áreas do conhecimento e da atuação humana. Por fim, um grande salto qualitativo em ralação à interdisciplinaridade é a transdisciplinaridade preconizada pelo físico romeno Basarab Nicolescu. Além da integração interdisciplinar, a transdisciplinaridade investiga a transversalidade temática entre as áreas. Ou seja, abordagens que perpassam de forma transversal diferentes áreas do conhecimento e atuação. Neste sentido, podemos aprimorar a afirmação mais acima, estabelecendo que a Oitava Tônica é a perspectiva interdisciplinar e a prática transdisciplinar das Sete Tônicas do Pramantha.  

Sansuke Watanabe

Matemático com Graduação em Matemática Pura, Mestrado em Computação Quântica, ambos pela UFPE, e Doutorado em Matemática Computacional pelo Laboratório Nacional de Computação Científica. Atualmente, é Professor Adjunto da UFAPE e atua na área de modelagem física, matemática e computacional de sistemas fisiológicos complexos. Possui interesse por aspectos interdisciplinares e transversais da Ciência, das Artes e da Filosofia e suas estreitas correlações com a Sabedoria Iniciática das Idades. É membro da Sociedade Brasileira de Eubiose desde 1978 e admitido na Série Interna da Ordem do Santo Graal em 1989. Atuou em diferentes Unidades da SBE: São Lourenço-MG (1978), Recife-PE (1986), Petrópolis-RJ (2009) e Juiz de Fora (2010) no exercício de funções de Sacerdote (Recife), instrutor e palestrante. Atualmente, está vinculado à Representação de Garanhuns-PE (2015), onde exerce as funções de Sacerdote Regional e instrutor dos Graus. É um dos autores da Série “O que é Eubiose?” publicada pelo CEP (2016) e autor de diversos artigos sobre temas iniciáticos publicados pelo projeto Confraria 137 do extinto Núcleo 137, atual Semente Abstrata. Endereço para acesso ao CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/4598453019812221.

“Nossos textos representam, exclusivamente, as ideias e opiniões dos idealizadores da Poliética”.

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