Venerável Hélio Jefferson de Souza Filho fala durante a premiação dos vencedores da 1ª Edição Nacional do Prêmio Henrique José de Souza de Literatura, em Nova Xavantina (MT), em 2014. Da esquerda para a direita: Fernando Leça, Mauro Leslie e Ariel Gonçalves.
Algumas pessoas parecem que vêm ao mundo para contradizer o tempo, dar nó nas linhas, nem sempre previsíveis, da física. O passado, quanto mais o tempo passa, pela lógica, mais passado vai se tornando; e o esquecimento, feito escombros invisíveis, vai compondo-se no escuro. Quanto mais tempo se tem de vida, menos tempo de vida terá o ser vivente. É a entropia orgânica, clara em tudo que envelhece, fazendo-nos assistir o debulhar do tempo pelo chão do passado. É a morte ou o fim dos ciclos. O termo entropia, seja na sua razão filosófica ou na termodinâmica, é a inexorável tendência de tudo se autodestruir. É a irreversibilidade das coisas recaindo sobre si. “O tempo vai morrer com o tempo” ou na máxima joanina: “Não haverá mais tempo” (Ap 10, 6). Mas essa mensuração do tempo, para alguns pode ser diferente, alguma anomalia acontece, e se estamos falando do Hélio Jefferson de Souza Filho, o Helinho, podemos dizer que ele abre um buraco no espaço/tempo dessa teoria entrópica. Quanto mais o tempo vai passando, simplesmente, a impressão que se tem é que ele vai se organizando dentro da gente, passamos a entendê-lo e a senti-lo mais e melhor. É fato que o nosso amigo e Irmão deixou de estar conosco de corpo presente, mas ele vai nascendo na gente a cada dia. Não para de crescer, e o que se percebe é que ele vai ocupando um espaço cada vez maior; coisas que ele disse e fez, mesmo que tenhamos entendido à época, quando olhamos para aquilo de novo, tem outro tamanho, outra dimensão, e é capaz de nos tocar e transformar novamente. Sim, ao invés do tempo apagar com seu impiedoso sopro as chamas das vozes do Helinho, acontece o contrário, quanto mais o velho saturno sopra, mais acende em chispas e brasas as tantas vozes desse filho do Hélio Jefferson de Souza, neto de Henrique e Helena. Há seres tingidos com os lumes da genialidade e se atribui ao gênio sempre as coisas da mente, as coisas dos neurônios. No meu entendimento, o facho luminoso da genialidade do Helinho não estava só na mente, mas, e principalmente, no coração. Sim, ele tinha um coração gigante, como uma constante explosão nuclear, dando clarão de sóis por onde passava. Ou como dizia o amigo Ruy Junior, “constante móvel”. Tocá-lo era tocar a amizade, seu centro de gravidade era a fraternidade, no seu estado puro. É certo dizer que nem todas as pessoas tinham o Helinho no coração, mas, certamente, ele tinha todos as pessoas no seu coração, essa parte nobre e gigante do seu ser. Quem dizia que possuía um “grande coração”, era ninguém menos que sua avó, Helena Jefferson de Souza.
Dizia Hölderlin: “Para que poetas em tempos de penúria?” Complementamos, para que poetas em tempos de fartura? Para que poetas no inferno ou no paraíso? Para que poetas? Não sei dizer. Acho que nem o Helinho, mas, sem pensar nisso, ele não se negava aos irresistíveis exercícios da oficina de escrever. Escrevia onde estivesse, onde pudesse alcançar uma caneta, um pedaço de papel, podia ser até o embrulho do pão. Era somente um papel já descartado, mas ele, como que por mágica, soprava-lhe sílabas e o milagre acontecia, seus escritos adquiriam alma, mente, asas e o roto papel virava ouro vivo. Relíquia falante. Os alquimistas tentam transformar o chumbo em ouro, o Helinho transformava os papéis, em seu último estágio entrópico, em ouro. Espero que as pessoas, um dia, tenham a oportunidade de conhecer as tantas literaturas esparsas que ele deixou salpicadas por aí.
Foram das mãos do seu filho primogênito, Leonardo Faria Jefferson de Souza, que em agosto de 2022, Hélio Jefferson de Souza Filho, recebeu o Troféu Eubiose, o número um, o primeiro dessa honraria. Foi concedido a ele e isto muito nos orgulha. Diga-se de passagem, o Prêmio Henrique José de Souza só existe porque ele foi um dos entusiastas, colocou a mão na massa, vestiu a camisa. Na primeira edição, como um operário ou rei que desce ao chão do seu povo e luta ombro a ombro com seus soldados; Ele ia pra rua, distribuía cartazes, expunha-se em todos os meios para divulgar e fazia questão dele mesmo entregar os prêmios na solenidade de revelação dos vencedores.
Imagem da 1ª Edição Nacional do Prêmio Henrique José de Souza de Literatura, em Nova Xavantina (MT), em 2014. Na foto, da esquerda para a direita: Fernando Leça, Mauro Leslie, Helio Jefferson de Souza Filho e o vencedor da Categoria Conto, o indígena Xavante Jeremias.
Fomentador fértil e pertinaz da obra em que está empenhada a Sociedade Brasileira de Eubiose, nas cidades do Sistema Geográfico do Roncador, sua “luta pelo dever” nada deixou a dever naquela região.
Foi idealizador da COGEP, Coordenação Geral de Ética e Política da SBE. Como já dito noutros parágrafos, suas ações continuam nascendo, crescendo, a Cogep vai se alicerçando, subindo paredes, plantando telhados, multiplicando-se em edificações a cada ano. Tudo isso, certamente, é a energia do Helinho tomando proporções.
Veio dele a idealização do Instituto Cultural Brasileiro Hélio Jefferson de Souza, o I-Cultural, que promove, inclusive, o Prêmio Henrique José de Souza de Literatura, além de outras realizações relevantes. Guardem esse nome, I-Cultural, muito ainda vai-se ouvir falar dele.
Em agosto de 2024 acontecerá a 5ª Edição Nacional do Prêmio Henrique José de Souza de Literatura – Cidade de Nova Xavantina.
Promovido pelo Instituto Cultural Brasileiro de Ação e Cidadania Hélio Jefferson de Souza Filho – I-Cultural, na sua 4ª Edição, o certame literário inaugurou a outorga da honraria Troféu Eubiose aos homenageados naquele ano, por suas relevantes contribuições à cultura, podendo ser no âmbito nacional, regional ou para a cidade de Nova Xavantina, e, conforme prometido, estamos dando publicidade aos homenageados pela honraria do Troféu Eubiose: Selene Jefferson de Souza, Hélio Jefferson de Souza Filho (In Memoriam), João Machado Neto, Jorge Antônio Oro, Gercino Caetano Rosa, Maria Augusta de Queiroz Parreira, Ezio Calanca Garcia e Waldiney Santana da Costa. Na próxima semana daremos sequência à apresentação.
Parabéns por sua rica e exemplar história de vida, senhor Hélio Jefferson de Souza Filho!
Nossos textos representam, exclusivamente, as ideias e opiniões dos idealizadores da Poliética.