ENTREVISTA COM HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA, FUNDADOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE

ENTREVISTA COM HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA, FUNDADOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EUBIOSE

Por Mauro Leslie

Henrique José de Souza,
Fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose.

Entrevista com o fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, Henrique José de Souza, realizada em sua residência, Vila Helena, na cidade de São Lourenço-MG. Ao lado de sua esposa, Helena Jefferson de Souza, companheira de missão, em 10 de agosto de 1924 fundaram a SBE, que completa agora 100 anos de existência. Desde 2018, no Brasil, em 10 de agosto se comemora o Dia Nacional da Eubiose, em homenagem a sua fundação e por sua importância social, cultural e espiritualista.

Na presente entrevista, levada a cabo pela Revista Alquimia em maio de 1956, o mestre fala, abertamente, dos julgamentos cíclicos a que a humanidade está sujeita, dos quais o cristianismo e tantas outras teogonias anunciaram ao longo da história.

Aponta as condições degradantes em que se encontram os homens neste atual ciclo evolucional. Refere-se aos efeitos físicos e morais do uso das armas nucleares e as condições mentais e psíquicas porque passam e ainda passarão os seres humanos.

Política, nações, o não entendimento entre os dirigentes mundiais quanto à paz, e ainda o Dies Irae – a face rigorosa de Deus contra o mundo apodrecido e gasto. Discos voadores, um só idioma, um só padrão monetário, Buda e Cristo, tudo isso é citado nesta conversa.

O que se segue é uma rara entrevista com este brasileiro nascido em Salvador, Bahia,  que nos deixou uma vasta e riquíssima obra em todos os campos do conhecimento, por meio dos livros, artigos, cartas e através de sua história de vida inteiramente dedicada à paz, ao amor e à sabedoria.

Quem conhece o seu monumental acervo, tem a convicção absoluta de afirmar que se trata do mais rico conhecimento já deixado à humanidade. Antes que o leitor nos julgue,  convidamos a todos acessar ao seu legado, que, além das escrituras, deixou-nos a instituição – Sociedade Brasileira de Eubiose -, uma verdadeira universidade teosófica, escola essa de formação e aprimoramento emocional, intelectual e espiritual. Chamou a Eubiose de Ciência da Vida, a prática do bem, bom e belo, da fraternidade universal entre os homens, preconizando a harmonização com as leis naturais e universais.

A SBE está presente hoje em mais de 100 cidades brasileiras e em pelo menos 10 países, formando pessoas por meio dos seus cursos presenciais e via ensino à distância – EAD. Quem deseja formar-se como um eubiota pode procurar uma de suas unidades e se inscrever em seus cursos. Os graus ou anos letivos levam de quatro a cinco anos e são denominados de Iniciação. Todo o conteúdo aprendido na SBE é embasado nos ensinamentos de Henrique José de Souza e no que chamamos de Ciência das Idades.

A partir de agora, passamos a transcrever tal entrevista na íntegra:

Um Morto-Vivo fala aos “Vivos-Mortos na face da Terra

AVISO DO CÉU AQUELES QUE AINDA PODEM SE SALVAR ANTES DO FIM DO ANO

Estamos na sala de recepção da Vila Helena, sede da Sociedade Brasileira de Eubiose e residência do Professor Henrique José de Souza, presidente da instituição, na cidade de São Lourenço-MG. Há simplicidade e conforto discreto. Duas pinturas – uma representando a “fazenda da Serra da Mantiqueira”, a outra simbolizando o mestre ao piano, tocado pela “inspiração” pairando no ar, e um retrato do casal, tela de um pintor paulista, ornam as paredes.

Pintura “Inspiração”, da artista Yolanda Campello.
Acervo: Vila Helena, São Lourenço, Minas Gerais.

Da varanda da casa descortina-se a colina onde, em fevereiro de 1955, pousou um disco voador, e do qual saíram três seres para dali saudarem os residentes da Vila e a própria cidade, no que foram correspondidos pelos que acorreram à referida residência. A tarde vai caindo seu termo. O dia foi quente, mas o ar agora é agradável. Lá no alto algumas nuvens preocupam o mestre. Estávamos ali como discípulos e amigos do chefe da Missão Y, a palestrar sobre medidas que deveriam ser tomadas para lançamento da 2ª edição corrigida e aumentada do livro “O Verdadeiro Caminho da Iniciação”, sob a chancela da Editora Alquimia Ltda.

Capa do livro do Professor Henrique José de Souza “O Verdadeiro Caminho da Iniciação”.

     

Professor Henrique José de Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Eubiose, à época com a designação de Sociedade Teosófica Brasileira, sendo entrevistado pelo nosso repórter. Atenta, ao lado, sua esposa, Dona Helena Jefferson de Souza.

Mas os Deuses dispõem as coisas a seu modo, quando há necessidade. Mal poderíamos imaginar que funcionaríamos como repórter, subitamente, colhidos na emergência, na fragrância da revelação. Chamando-nos com um aceno de mão para a porta da sala, e apontando para o céu, perguntou:

– Que vê o senhor ali?

– Uma nuvem – respondemos naturalmente, mas estremecemos e dissemos:

– Parece uma esfinge!

– Uma esfinge e seu enigma, – sentenciou nosso interlocutor, empunhando sua máquina fotográfica e batendo a chapa com presteza.

– Então é um sinal dos céus, Professor…- insinuamos, já que fiel ao seu sistema de iniciação aos irmãos maiores, o mestre cede ao seu permanente propósito de revelar o quanto pode.

– Sim, senhor, “sinal dos tempos”, como outros tantos que nesse mesmo céu aparecerão, inclusive o nome Melquisedeque. Eu dizia que a 2ª edição do meu livro abrangerá aspectos inéditos, segundo os originais que mandarei dentro de breves dias, mas há necessidade de aproveitar o tempo ao máximo porque prevejo dias catastróficos para o nosso querido Brasil. A fisionomia do mestre mostrou nesse instante tamanho acabrunhamento que ficamos perplexos. Ele sofria muito, seus olhos pairavam longe e, quando os pousou sobre nós, estavam marejados de lágrimas. Com a voz quase estrangulada na garganta, esfregando as mãos como é seu hábito quando faz revelações, disse-nos:

– O senhor se recorda, certamente, das entrevistas que o Strauss (Paulo Strauss), por minha ordem, concedeu ao talentoso João Martins de “O Cruzeiro”.

Pois bem, tenho revelações muito mais importantes a fazer e que serão ditas ao microfone da Rádio Roquete Pinto, no nosso programa “Santuário do Brasil”, além de ser publicado na nossa revista “Dhâranâ”.

– Mas, então, o senhor já escreveu essas revelações, Professor?

– Estão rascunhadas, falta a forma final.

– E diz o senhor que são revelações mais importantes que as feitas no mundo através de “O Cruzeiro”?

– Evidentemente, porque até aqui fizemos avisos, mas desta vez somos obrigados a fazer advertências – E adivinhando o nosso pensamento, acrescentou: – Se quiser pode tomar suas notas e publicar na revista que vocês pretendem lançar a 1º de maio. Empunhamos nossa caneta e procuramos registrar o pensamento do mestre com a máxima fidelidade.

Começa a Entrevista

Capa da Revista Alquimia, Ano 01, Número 01 em maio de 1956.

O sr. Henrique José de Souza, levantou-se e andou pela sala, estacando à porta, na varanda, e olhando o firmamento, onde Vênus luzia a sua graça e o seu mistério estelar, o crepúsculo descia mansamente sobre São Lourenço. Silenciosamente, esperávamos. Pressentimos revelações portentosas. O mestre regressou a sua poltrona, e suavemente, com ternura na voz, disse com simplicidade: Escreva:

– Como já dissemos várias vezes, o ano em curso é decisivo para a humanidade, porque é o ano do seu julgamento cíclico, “a separação do trigo do joio”. Como em todas as épocas, nesta não faltaram nem avisos, nem os apelos, e até mesmo súplicas. Poucos, entretanto, deram ouvidos às nossas palavras, e desses, alguns se encontram em nossas fileiras. Mas há muitas almas por esse mundo que devem nos procurar para receber a palavra-de-passe da salvação. Nós as receberemos de braços abertos e com o coração pleno de fraternidade na nossa família. Infelizmente, como disse a pequena vidente de Fátima ao rev. Lombardi – que a interpelara sobre a nova ordem de S.S. o Papa Pio XII  -, “o número de perdidos é maior do que se possa imaginar”. Por isso não posso prever de que servirá tal ordem. O mestre fez uma pausa para que terminássemos o registro e continuou:

– De nossa parte, consciente da ameaça que paira sobre o mundo, e ainda, tendo a missão de reunir a semente da nova civilização, há longos 34 anos vimos trabalhando para evitar a catástrofe iminente. Por isso é que, em última chance, fizemos um apelo aos homens do mundo, pelos pupilos de nossa Obra, no dia 1º de janeiro transato, através das emissoras Tamoio e Continental, do Rio, na Rádio S. Lourenço e na Inconfidência, de Belo Horizonte.

“A degradação humana é cada vez maior, o mundo inteiro já deveria estar com a mentalidade preparada para o advento da nova civilização, da Nova Era.”

Henrique José de Souza

A DEGRADAÇÃO ATUAL

– A degradação humana – continuou o mestre, com estranho acento metálico na voz -, a degradação humana é cada vez maior, o mundo inteiro já deveria estar com a mentalidade preparada para o advento da nova civilização, da Nova Era. Principalmente entre os espiritualistas, que arcam com as maiores responsabilidades, a ponto de o termo “espiritualmente” ter sido, ignaramente, rebaixado para designar o psiquismo, e muito mais, as práticas de baixa magia, que expressam o estado de consciência da 3ª Raça-Mãe ou lemuriana, quando os seres ainda não possuíam o mental desenvolvido, isto é, tinham-no incipiente, e, portanto, viviam mais psíquica do que mentalmente.

OS ELEITOS E OS PERDIDOS

– Isto é, meu amigo, o que sempre aconteceu no final dos ciclos: os eleitos superam a sua mentalidade, preparando-se para as novas etapas, ao passo que os perdidos a retrogradam até os estágios primitivos da evolução. São aqueles que o divino Dante aponta no termo “smarrita”, em cujo final se acha o Portal onde se liam as ameaçadoras palavras, “Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate”…

A JUSTIÇA IMPLACÁVEL

– Mas, Professor, o senhor falou em catástrofe final…

– Sim! – interrompeu-nos o nosso entrevistado.- Essa é a verdade, tão verdade que o senhor pode intitular essa parte que vou lhe dizer de “Dies Irae”!

A Srta. Selene Jefferson de Souza. Filha do casal Henrique e Helena Jefferson de Souza, posa para nossa objetiva. Veste um lindo modelo com que se apresentou ao “Desfile Paramount”, levado a efeito em S. Lourenço, no mês de fevereiro p.p., em benefício do Pão de Santo Antônio, organização católica daquela cidade, a favor de sua pobreza. O gesto do casal revela a intensão do ânimo, a tolerância e o respeito dos Teósofos para com todas as religiões, principalmente o benefício aos que, na penúria, têm direito ao amparo dos seus irmãos favorecidos da sorte.

“o “Dires Irae” da tradição se refere ao momento atual da humanidade!”

Henrique José de Souza

– Realmente, os que não desconhecem as revelações do passado, os sacerdotes de todas as religiões positivas, e os filósofos, os ensaístas, os poetas…

– …mas como não são iniciados – obtemperou o mestre -, ignoram completamente que o “Dies Irae” da tradição se refere ao momento atual da humanidade!

– Tratar-se-á do Juízo Final?

– Não, o Juízo Final está muito longe dos nossos dias. O senhor deve saber que nem Buda, nem Cristo, nem qualquer outro Portador da Essência Divina, em forma avatárica, fizeram referência ao ciclo completo da evolução humana na Terra, e sim aos vários em que é repartida a Vida Universal, através de Raças ou estados de consciência.

Chegaram alguns discípulos em visita costumeira ao mestre, e após o clássico cumprimento de mão direita sobre o coração, e sentarem-se, quedaram em silêncio. Na penumbra macia da sala a voz profética ganhou ressonâncias, e o repórter registrou:

– Vejamos, por exemplo, a Promessa de Cristo, apontando uma dessas épocas ou ciclos: “Quando ouvirdes rumores de guerra, não vos assusteis, porque é preciso que isso aconteça. Levantar-se-á nação contra nação e reino contra reino. E haverá fome, pestes e terremotos em vários lugares. Mas todas essas coisas são apenas o começo das dores. E depois da aflição daqueles dias aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem”. Por sua vez, Ieseus Krishna (vide o Bhagavad Gita), dirigindo-se ao seu discípulo Arjuna, diz: “Todas as vezes, ó Filho de Bhãrata, que Dharma (a lei justa) declina e Adharma (o contrário, como agora acontece) se levanta, EU ME MANIFESTO PARA SALVAÇÃO DOS BONS E DESTRUIÇÃO DOS MAUS. Para restabelecimento da LEI, EU NASÇO EM CADA YUGA”  (idade, ciclo, era, etc.).

” O que se verifica neste fim de ciclo apodrecido e gasto, é a conivência para o sobreviver de cada um, à custa do atraso e do obscurecimento psíquico e mental da Humanidade!”

Henrique José de Souza

CONCORDÂNCIA ENTRE BUDA E CRISTO

– Como se vê, as palavras de todos esses seres não divergem entre si, pelo contrário, todas elas são uma só e mesma essência: a Essência Divina manifestada na Terra. Erram, portanto, aqueles que só tomam como verdadeiros os de sua religião, julgando que os nomes são apenas o motivo da manifestação dessa mesma divindade na Terra.

– Há igualdade entre Cristo e Buda.

– Só ignoram isso os homens sem cultura e aqueles que não têm a habilidade de fazer parte de nosso colégio iniciático. Nem Cristo é mais do que Buda, nem Buda é mais do que Cristo. Há muitos anos, através dos nossos ensaios estampados em Dhâranâ, conferências, livros, etc., ensinamos que o nome Buda provém do sânscrito “Bódi”, com o significado de sábio, iluminado, etc., do mesmo modo que o “Bod” (sem o i) tibetano, com o mesmíssimo significado. Por sua vez, Cristo provém do grego “Krestus”, que quer dizer ungido, sábio, iluminado.

LUTAS SANGRENTAS POR CAUSA DE . . . NOMES

– Somente os impúberes psíquicos (ou de alma jovem), pela sua diminuta evolução espiritual na Terra, estabelecem essas confusões, as quais, infelizmente, têm sido o motivo de lutas havidas entre todas as religiões do mundo. Floriano Peixoto, famoso cabo de guerra, político sagaz, espírito virilmente patriótico, dizia que “No Brasil só temo guerra religiosa”. Floriano tinha razões de sobra para afirmar tal coisa, principalmente pelo fato de não haver mais distinção entre o “poder espiritual” e o “poder temporal”. Vejam que também a este respeito de nada valeu o ensinamento do Cristo: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, provando que o poder temporal é um e o espiritual bem outro. – E com veemência sublinhou: – O que se verifica neste fim de ciclo apodrecido e gasto é a conivência para o sobreviver de cada um, à custa do atraso e do obscurecimento psíquico e mental da humanidade! Mais do que nunca, meus amigos, procura-se “dividir para imperar”, enquanto os poucos homens sinceros e valorosos que não se afastam da Lei Divina, lutam, a bem dizer, quase inutilmente pela unificação, pela fraternidade, pela salvação, enfim, dessa humanidade!

“Mais do que nunca, meus amigos, procura-se “dividir para imperar”.

Henrique José de Souza

O DIA DA IRA CONTRA OS PERVERSOS

– Não se pode negar – prosseguiu o sr. Henrique José de Souza – que o “Dies Irae” aponta a hora trágica da humanidade. Sim, a hora é chegada para o Dia da Ira ou do Deus contra a maldade dos homens. Nessa altura trouxemos as últimas informações sobre as divergências que dificultam entendimentos entre soviéticos, americanos e ingleses, e o desânimo que existe acerca da conferência de Londres, ao que o nosso entrevistado afirmou:

– Justamente, vejam que são precisamente três países os que inscrevem a referida IRA, porque não cessam suas experiências com explosões de bombas atômicas e de hidrogênio. São elas a Inglaterra, a Rússia, e a América. As iniciais desses nomes, juntas, são a palavra IRA, o que vem a ser uma aplicação rigorosa da chave filológica em ocultismo. Mas como esses três países regem o mundo, por todo o mundo essa IRA se manifesta. Mas ainda podemos achar as letras de IRA em três termos da nossa língua, que expressam as origens da calamidade mundial: são elas Ignorância, Rebeldia, Altivez. E usamos o nosso idioma – que é a língua sagrada, tanto que é a língua oficial da Grande Fraternidade Branca, propositalmente, pelo fato de, mais uma vez repetimos, ser o Brasil  “o santuário da iniciação do gênero humano a caminho da sociedade futura”.

EM VÉSPERAS DE FENÔMENOS ATERRADORES

–  Milhares e milhares de pessoas, intuitivas, percebem que uma grave ameaça  paira sobre o mundo. Não é pessimismo, é a dura realidade dos dias atuais. Só não percebem os que têm olhos e não vêm, os que tem ouvidos e não ouvem, e que, finalmente, só tendo boca, preferem falsear a verdade em proveito próprio, em detrimento do próximo. E, consequentemente, as explosões termonucleares trazem o degelo dos polos, que nem daqui a vinte e cinco anos voltarão a ser o que eram, os mares se transfortmam em um só bloco de gelo, as estações se confundem.  A própria constituição humana – deplorou, consternado – está sofrendo  sérias perturbações. Não falemos em moléstias desconhecidas, principalmente da pele, dos olhos, do sistema nervoso, provocando a demência, a loucura, etc.  O número dos que falam sozinhos aumentou, pelas ruas das grandes cidades.

“…as explosões termonucleares trazem o degelo dos polos.”

Henrique José de Souza

– Qual seria a causa imediata disso?

– Muito simples responder. Efeitos das cogitações insuperáveis da vida humana, dentre elas as dificuldades de resolver os problemas domésticos, os problemas do lar, que transbordam e enchem a sociedade com suas desordens! Estamos em vésperas de fenômenos aterradores, que a muitas pessoas poderão levar a sérios desequilíbrios mentais. Observe-se, por exemplo, as irradiações solares, comprometendo a vida do nosso globo, inclusive perturbando as ondas hertzianas.

– O senhor adiantou qualquer coisa semelhante nas reportagens de “O Cruzeiro”, em tal sentido. – E agora reafirmamos o que dissemos ao João Martins: “As estações de rádio entrariam em silêncio para se ouvir apenas uma VOZ ESTRANHA, CONDENANDO OS HOMENS pelo seu afastamento da Lei e consequente ódio de uns contra os outros.” Esse fenômeno está sujeito ainda a duas questões: se até o 24 de Junho o caso do desarmamento geral estiver resolvido. E, finalmente, até setembro p. v., se a situação espiritual do mundo tiver melhorado… o que não acreditamos.

OU DESARMAMENTO OU CATÁSTROFE

– Nós, da Sociedade Brasileira de Eubiose, temos autoridade para falar assim porque há 34 anos vimos trabalhando intensivamente pela Fraternidade Humana. Em 1949, fizemos erigir aqui, em São Lourenço, um templo dedicado ao Avatara Maitreya, à Paz Universal e a todas as religiões do mundo. Afirmamos e reafirmamos, como todos sabem, que o fator essencial para a pacificação seria o desarmamento das nações, dentro de três meses no máximo, para que se atenuassem as aflições que pesarão sobre o mundo na sua hora mais trágica.

– Mesmo o desarmamento, pelo que parece, tão difícil, seria uma simples atenuação das aflições, Professor?

– Infelizmente, sim. Mas, se nem isso se der, só nos cabe dizer, repetindo Enéas no famoso verso de Virgílio: “Una salus victis, nullam sperare salutem.” (Uma só possibilidade de salvação resta aos vencidos: não esperar salvação alguma.)

PORQUE DESAPARECERAM OS “DISCOS-VOADORES”

Não perdemos a oportunidade para interrogar o mestre sobre o não aparecimento, ultimamente, dos discos-voadores. – Faça a pergunta aos maiores cientistas do mundo e eles, naturalmente, não saberão responder. Mas eu respondo: o motivo está na própria atmosfera. – Como assim? – fizemos, curiosos. – A atmosfera terrena está impregnada de energia nuclear, e isso não permite aos discos-voadores os reiterados e incompreendidos avisos que, a seu modo, faziam aos homens, “para que cessassem semelhante processo de destruição, Alguém na sala observou que a imprensa registrara, entretanto, alguns aparecimentos, há alguns meses, desses misteriosos aparelhos.

– Sim – concordou o mestre -, mas onde? Esses raríssimos aparecimentos se verificaram em algumas regiões do sul, porque elas se acham afastadas das zonas que lhes são fatais.

– A energia nuclear é fatal aos discos-voadores?

– Sem dúvida – afirmou, categoricamente. – O “similia similibus congregantur” fala bem alto daquilo que queremos dizer. Duas forças iguais entre si ou “semelhantes” são iguais a uma terceira. Ou melhor, no caso vertente, destroem-se.

– Quer dizer, Professor, que se esses discos-voadores aparecessem nas zonas impregnadas de energia nuclear, sofreriam acidentes?

– Muito graves, estariam sujeitos a ser destruídos por incêndio.

Tentamos fazer uma pergunta mais positiva, aliás, interpretando a ansiedade coletiva que se estampara no rosto dos presentes.

– Falar mais claro não nos é dado fazer – foi a recusa terminante.

Um dos presentes lembrou que a última visita dos discos-voadores a São Lourenço se verificara em fevereiro do ano p. p., quando um deles pousara na colina fronteiriça à Vila Helena (Avenida Getúlio Vargas, 465) e três tripulantes da aeronave saudaram as pessoas que se encontravam na varanda da casa, ocorrência assistida por muitos residentes em São Lourenço e em número superior a vinte, além de hóspedes do Hotel Jina, Sul-América, Londres e vários habitantes da localidade.

A LUZ ESTÁ NO OCIDENTE

Onde estão as religiões – perguntou abruptamente o sr. Henrique José de Souza -, os tais “espíritos superiores” dos centros desse gênero, os famosos “ocultistas”, profetas e messias, e aqueles que ainda se arrimam na velha muleta oriental, quando os maiores filósofos da Índia são os primeiros a dizer que “o momento é do ocidente, e que sua próxima encarnação será no Brasil”?… Sim, podemos afirmar, ao “Ex-Oriente Lux” de Emanuel Swedenborg substituiu-se o “Ex-Ocidente Lux” da Nova Era, isto é, da missão em que está empenhada a Sociedade Brasileira de Eubiose há longos trinta anos de lutas e sacrifícios inconcebíveis. inclusive contra si mesmos.”

– O senhor se recorda daqueles dias trágicos de 1939, quando treze dias antes da conflagração bélica escrevíamos nosso livro “O Verdadeiro Caminho da Iniciação”, com o qual procuramos provar, com base na crítica religiosa e filosófica, a queda do ciclo atual, inclusive das religiões e das filosofias, do mesmo modo que da política. Fomos compreendidos? Qual foi a resposta do mundo ante as nossas provas? Continuaram a realizar sua obra de destruição, de fanatismo e de rebeldia contra a própria Divindade. Permita, Professor, com essa franqueza que o senhor mesmo nos recomenda, uma observação: eminentes ou humildes, isoladas ou unidas em instituições, trabalharam contra a guerra que se esboçava e estourou em 1939, e depois dela continuam trabalhando porfiadamente. Até mesmo homens ilustres das várias religiões, inclusive Pio XII. S. S. vem, ultimamente, instando com suas palavras e na sua mensagem do último Natal condenou as armas termonucleares.

– Muito bem, meu amigo, e quem ouve, quem atende a essas palavras? Milhões de pessoas sensatas, de coração ainda não pervertido, encontram no verbo luminoso de Pio XII eco fidedigno de suas aspirações. Nem eu quero dizer que  seja o único a proclamar a necessidade de paz entre os homens, o que eu quero  afirmar é que nosso esforço, o esforço ingente de nossa instituição cultural-espiritualista, que é a SBE, ergueu sua voz com antecedência, com primazia há longos anos. Tanto mais que não falta quem nos queira imitar, mas falta-lhes tudo, a começar pelas dores e pelos sacrifícios com que vimos trazendo até hoje a missão que nos foi conferida pela própria Divindade, no alto de uma montanha sagrada. O senhor conhece a história de nossa Obra, sabe quando foi isso. Perfeitamente, nossos documentos provam que tal fato se deu às 15 horas do dia 28 de setembro de 1921. O professor fez um gesto com a mão direita e observou:

– Não contando com nosso trabalho particular desde o ano de 1899, na ilha de Itaparica, caminho depois a Lisboa e a seguir ao norte da Índia. Mas não queremos ir tão longe, basta-nos recordar que desde 1921 lançamos o slogan “Um só idioma, um só padrão monetário, uma frente única espiritualista”.

– E falo que nenhuma instituição espiritualista no Brasil ou no continente atendeu ao apelo.

– Ninguém nos quis ouvir até hoje – continuou o Professor Henrique.

– Mas agora, na pior de todas as balbúrdias – note bem -, na pior de todas as balbúrdias, querem nos obrigar a tomar parte naquilo que até hoje foi bem nosso. Lamento ter que dizer, irmãos retrógrados, mas é tarde. Nossa resposta, neste ano solucionador dos destinos humanos, é: não, absolutamente, não. É tarde demais, repetimos, para realizarmos aquilo que vós mesmos desprezastes quando vo-lo oferecemos. Além disso, a ciência eubiótica da Nova Era não pode confundir-se com baixa magia, psiquismos e religiões bastardas. Como poderíamos continuar apelando para uma Frente Única Espiritualista, se todos os seus setores jamais nos compreenderam? O ano atual, repetimos, não mais permite, de nossa parte, semelhante providência.  “Velha Traça” do Passado – Aliás, como já vimos dizendo desde o ano passado, a SBE encerrará, a 28 de setembro p. v., suas portas, a maiores de 21 anos. Portanto, se os próprios adultos, a partir daquela data, não poderão dar ingresso em nossas fileiras, com certas restrições… mas tão somente as crianças como sementes da nova raça, como deixarmos de educar essas mesmas sementes, de modo tão elevado, para as imiscuirmos com a velha traça do passado?… – E categórico, como sempre, arrematou: – Ciências, religiões, filosofias, a própria política, tudo tem que ser completamente modificado. A nossa própria Constituição não poderá ser reformada por quem não tenha competência nem a iniciação que o ciclo requer.

UM APELO AOS POLÍTICOS

– A propósito de política, lembramos a frase de Napoleão de que “O destino é a política”. Ao que o nosso entrevistado disse:  – Se o senhor tem espaço na sua revista, tome nota do seguinte: lamentamos dizer que o Brasil está ainda, politicamente, muito atrasado em relação ao seu destino de modelo de nações, como o exige a própria Lei que a tudo e a todos rege. Porque a verdade é que a nossa terra vem sendo preparada espiritualmente há milênios para este momento grandioso, como temos ensinado publicamente desde a fundação da Sociedade Brasileira de Eubiose. Sim, a política é importante, é decisiva, e por isso lançamos nosso apelo aos homens públicos do país. Trabalhem em harmonia para o bem comum de nossa pátria. Lembrem-se de que nada é mais prejudicial ao progresso da nação do que a oposição ferrenha e sistemática àqueles que tendes como adversários, oposição essa que, nas mais das vezes, visa a destruição do homem, sem considerar a utilidade e a importância dos atos que pratica. A constante prática da sã política, filha da moral e da razão, no dizer esplendido de Rui Barbosa, há de levar os políticos à intuição pura sobre o caminho que devem preparar para este Brasil privilegiado. Compreendam que não temos o propósito de ofender a quem quer que seja. Quem mais poderia respeitar o próximo do que nós, que sofremos os maiores sacrifícios para levar avante esta missão em favor da própria Humanidade? No entanto, a responsabilidade dessa mesma missão não nos deixa outra alternativa senão dizer tudo o que deve ser dito aos homens.

“…lamentamos dizer que o Brasil está ainda, politicamente, muito atrasado em relação ao seu destino de modelo de nações, como o exige a própria Lei que a tudo e a todos rege.”

Henrique José de Souza

– Não vemos ofensa no seu pensamento, mestre, e quem se ofender naturalmente tomará para si a carapuça.

– Não, sabemos muito bem ao que estamos expostos. Porém, como teósofos que somos, nada tememos, pois seria aquela mesma Divindade que nos fez entrega de semelhante tesouro quem por nós responderia com o Dies Irae com que vem condenando a maioria dos homens.

UM MORTO-VIVO FALA A VIVOS-MORTOS

Depois de breve pausa, com o olhar fixo em alguma região remota ou com sua dupla vista assistisse ao que os séculos abrigam no seu arcano, o sr. Henrique José de Souza, adotando um tom em que divisamos a presença de “velhas feridas prestes a sangrar”, como disse o nosso poeta, falou:

– Se calássemos, esta seria a maior das traições a Deus e à Humanidade. Isso não faremos de modo algum. Preferimos falar, cumprir o nosso dever de “morto-vivo” enfrentando a maldade dos homens, que no seu momento atual não são mais do que “vivos-mortos na Terra”. Ademais, aquele que fala em nome da Lei (chamem-na de Deus ou outro nome qualquer) pode dizer o que quiser, por mais terrível que pareça a olhos e ouvidos profanos.

Palavras finais dos redadores à época:

  A presente entrevista, colhida por um dos nossos redatores e discípulo do sr. Henrique José de Souza, portanto irmão maior da S.T.B., é acolhida em ALQUIMIA, apesar de sua extensão, por ser um documento extraordinário, tão extraordinário que não tem similar na Literatura ou no Jornalismo de qualquer país.

       Os conceitos nela reproduzidos, aliás, foram irradiados, com pequenas variantes de palavras, pela Rádio Roquete Pinto, desta capital, em data recente, precisamente às 15h30 do dia 25 de março p.p. ALQUIMIA estampa a entrevista na convicção de que nossos leitores nos agradecerão a oportunidade de travar relações com um patrício que deve de ter muito valor, já que tem sido tão combatido, soante com o iniciático provérbio de que “ninguém atira pedras em árvore sem frutos”.

“Nossos textos representam, exclusivamente, as ideias e opiniões dos idealizadores da Poliética”.

Compartilhe este post

Deixe um comentário

Se você não é membro e quer conhecer nosso curso introdutório de Iniciação Peregrino clique no botão abaixo.