O LÚDICO E O POÉTICO NA ESPIRITUALIDADE

O LÚDICO E O POÉTICO NA ESPIRITUALIDADE

Por Luis Cesar Souza

A criança aprende brincando, jogando, imaginando, creando. Noções cognitivas lhes são acrescentadas, ampliando seu universo. Uma boa aula não deixa de ser um manusear de dados, um teatro. Bem o sabem os professores que lidam com os infantes.

As cores, notas musicais, os números, as formas geométricas, a dança, as palavras poetizando cirandas, canções, jogos diversos, mais o material humano e a sensibilidade do orientador com a turminha nos dão um conjunto de possibilidades, ampliando-se a todas as idades, psico-pedagogia aliada às artes, sendo que hoje a criança já vem com um potencial maior de conhecimento, de bagagem psico-mental. Genes evoluem…

Então, no poema há um jogo, um brincar com as palavras, assim como a poesia existente em qualquer manifestação artística. Só que as palavras têm um dom peculiar de explicar o mundo e dar significado às coisas, nomeando-as, incluso àquilo que não existe ou é considerado lenda, folclore, fantasia, mitologia, milagre, do imaginário popular. Concede nova vida ao preexistente e propõe um futuro. Diz-se que os artistas antecipam-se, captam algo que ainda não foi colocado no seio social, dando-lhe uma forma acessível de compreensão ou interpretação.

No incessante manusear de dados sociais novas palavras surgem, outras imagens e ideias ampliam o imaginário coletivo, simbólica, sinteticamente. Signos diferenciados, alguns retirados do fundo do baú da alma, buscando o mais profundo, o abstrato, alcançando outras dimensões e, se “não há nada de novo sob o sol”, há algo novo retirado do existente. O passado é retrabalhado, juntando-se aos insights poéticos.

O espírito no ser humano necessita de poesia – creação, deleite estético, com a Natureza, linguagem divina bem próxima de nós -, e de lazer – deixar-se estar, espontaneidade. O esteta Oswald de Andrade, “antropófago cultural” (recriou a cultura europeia dominante no início do século passado, inserindo a brasilidade, a maneira de ser e falar do nosso povo), creou o poema-segundo:

Humor

Amor 

Rir de si, rir à vontade. O bardo santamarense Caetano, em toda sua obra move, remove palavras, crea outras, em especial no LP/CD Outras Palavras. Demasiado seria dizer que o artista em seu ofício movimenta-se em meio às essências? Como querer quintessenciar?

A ruptura de padrões estéticos acontece quando o artífice vai além, nem sempre compreendido em seu tempo, provocando reações às mais diversas, choque cultural provocado a fim de romper a linearidade do pensamento, emoção e atitude humana. A arte como obra espiritual, o espírito como obra de arte.

Se tudo é estético no que se percebe da arte, nem tudo contém beleza ou soa bem aos ouvidos, até porque cada um possui suas referências e preferências. Caberia o cuidado de não sobrevalorizar a forma (o belo) em detrimento do conteúdo (o bem), são dois lados da mesma moeda. Entre um e outro a análise, a crítica. É deixar o coração (o bom) levar-nos ao que nos agrada ou não.

O título Vinde a Mim as Palavrinhas, do livro de poemas de Floriano Martins, creador da revista Arsenal de Cultura em Fortaleza, dá-nos uma pequena noção da mística dentro da arte e vice-versa.

Grandes artistas voltaram-se para a espiritualidade:

Fernando Pessoa, William Blake, Wagner, Paganini, Leonardo da Vinci; entre nós um Gilberto Gil, Egberto Gismonti, Aleijadinho, Moreira Azevedo, são alguns exemplos. É que se trabalha numa instância ligada ao sentimento de universalidade e à intuição. Manipula-se “alquimicamente” como que aromas, flores da alma (Psiké, Persona) e do espírito (Eros, Nous).

E tudo passível de aprendizado, trocas, informações, parcerias, entrelaçamentos, jogos, brincadeiras da arte de bem viver.

Para finalizar este pequeno ensaio nada melhor que as palavras do eubiósofo educador soteropolitano H. J. Souza sobre a missão da arte:

Até agora a arte possuía uma missão sublime. Hoje ela está centuplicada. Sua missão é divina. O artista deve ser um ativo colaborador da Divindade. Esta, na acepção da palavra, ou seja, aquilo que há de vir. Seu trabalho há de ser efetivo, seus sonhos devem arrastar em seus passos a humanidade inteira, dirigindo-a pelo caminho da perfeição. Não se trata da simples carícia da ilusão dos sentidos, nem do recreio da mente, mas da completa transfiguração da alma.

“Nossos textos representam, exclusivamente, as ideias e opiniões dos idealizadores da Poliética”.

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