Essa Música Universal há de ser a linguagem que confraternizará todos os homens e a causa originária dessa Música, vibrando efetivamente para todos os seres: ela Face da Terra, já é, presentemente, uma realidade e corresponde ao Novo Cântico a que se refere Davi era seu 150º Salmo
Dr. Carlos Meireiles Osório
De acordo com Kurt Pahlen, em sua “História Universal da Música”, é enorme e impressionante a influência da música na alma do homem; dai suas múltiplas aplicações legendárias ou reais; da seu importante papel na cultura, na religião, em ações coletivas como festas, revoluções e guerras e suas aplicações modernas na medicina e na indústria.
As primeiras provas provêm de tempos remotos e mostram o profundo e místico efeito que exerciam os sons sobre todos os seres, tanto humanos como animais: Davi (o maior músico da antiguidade, autor dos magníficos Salmos) tocava a harpa para expulsar os espíritos malignos que se assenhoreavam do rei Saul. O músico Timóteo excitava o furor de Alexandre Magno cota urna melodia em certo tom e o aplacava com outra de tomdistinto.
Os sacerdotes celtas empregavam a música para moderar os costumes de seu povo. Terpandro desbaratou perigosa sedição na Lacedemônia, tão somente cantando ao som de sua cítara. Entre os gauleses, os bardos excitavam ou acalmavam com suas melodias o ímpeto de seus combatentes. Santo Agostinho nos relata que um simples pastor, tocando flauta, despertou tanto entusiasmo em seu povo que o elegeram rei.
Todos conhecem o exemplo cinco e célebre da Marselhesa, cantada pela primeira vez naquela noite de fervor patriótico, em 1792, por um simples aficionado, Rouget de L’Isle, que nunca, antes ou depois, conseguiu compor uma melodia semelhante, produto de um instante de milagrosa inspiração, em virtude do qual foi levado pelo frenesi dos revolucionários às barricadas de Paris.
A medicina, por sua vez, serve-se da música a para a cura de enfermos mentais.As fábricas modernas a empregam com o objetivo de aliviar tarefas pesadas e aumentar, assim, a produção.
Há, infelizmente, os aspectos negativos e os perigosos efeitos produzidos em nossa época pelo abuso e a profanação da música.
Desde os tempos primitivos da humanidade, o trabalho tem sido acompanhado demúsica, desde as melodias pastorais e os cânticos dos camponeses, dos artesãos, dos ferreiros, etc.
Por tudo isto, reconhecemos, – conclui o referido autor – que o chamado poder damúsica não é uma simples frase, mas um fato abonado pela experiência humana em todo o curso da história.
Finalmente, – indaga Kurt Pahlen – como definir a música?Para o autor, seria a música um fenômeno acústico, para os prosaicos; umproblema técnico de melodia, harmonia e ritmo para os profissionais; uma expressão da alma que nos pode elevar ao infinito e que encerra todos os sentimentos humanos, para os que verdadeiramente a amam de todo o coração.
De uma maneira mais profunda ainda, temos o conceito emitido por EduardoAlfonso, em seu livro intitulado “Guia Lírico Del Auditor de Conciertos”: a música nos revela a essência do existente.
O som musical é a vibração ou a alma de uma coisa ou de um ser, uma atitude psicológica ou um estado de consciência. Cada figura, acorde, intervalo e suas mútuas combinações e relações têm um valor psicológico e sugestivo que depende, em última análise, do valor numérico de sua vibração ou relação de vibrações. E assim chegarmos ao conceito matemático e, ainda mais, ao conceito da “Música das Esferas” do grande Pitágoras.
Pode-se compreender que, de fato, a música é a linguagem de Deus na Natureza e no coração de todos os seres.Vejamos de que forma podem ser compreendidos, através da Música, os mistériosbásicos da Criação, inclusive a conhecida “Queda dos Anjos” e, ainda, através da mesma “Música das Esferas”, prepara a Redenção da Humanidade, para o ciclo de Aquários, quando a Eubiose estará completamente realizada.
Roso de Luna, em sua obra intitulada “La dama del ensueño”, faz uma referênciamuito interessante no Teatro e, em particular, à Tragédia, relatando-nos o conceito das Sibilas sobre a Tragédia. Segundo nos relata Roso de Luna, dizem as Sibilas que não têm o mau gosto de apreciar a tragédia, por se tratar de uma obra literária incompleta em que os problemas humanos mais profundos permanecem sem solução e, além de tudo, em virtude da origem da tragédia não estar simplesmente, como se afirma, na história do Teatro, no ritual em que se sacrificava um cabrito no altar mas sim no que este ato representava, que era o sacrifício de seres humanos, praticado na Atlântida, através de terrível ato necromântico.
Para que a Eubiose realize seu objetivo, ou seja, permitir que a Humanidade viva em harmonia com as forças da Natureza e as leis que as regem, as Hierarquias Ocultas vêm trabalhando, principalmente, desde a queda Atlante, provocada por esse ato necromântlco, origem de todas as tragédias divinas e humanas, para o restabelecimento, na Terra, do setenárlo divino, cada um deles vibrando com um dos sete estados de consciência, em harmonia com a Lei da Evolução de todos os seres.
Um compositor, no seu papel de Interpretar a Linguagem da Natureza, através dossons sutis que lhe dão o chamado tema, para posterior desenvolvimento, de acordo com a técnica musical de cada época, deve servir de fiel intermediário e comentador, em sua linguagem sonora, de todos os segredos da Criação.
Quando um tema realmente foi dado pela Mãe Natureza ao compositor sincero que não se limita a fazer um trabalho, apenas cerebral, desenvolvendo ele o tema com a técnica da Composição Musical, faz a sua apresentação e um fiel comentário sobre o mesmo, da mesma forma que o orador expõe e comenta um tema de real interesse coletivo, de acordo com a técnica oratória.
O chamado sucesso da obra musical, resulta de ter ele transmitido em sons físicos, uma partícula da Alma Universal que vibra em todos os seres e os identifica, unindo-os.
O “Memorial dos Ritos”, obra chinesa que expõe a doutrina oficial da China sobre a Música, tem um capítulo especial denominado “Memorial da Música”, onde encontramos os seguintes conceitos. A perfeição humana é obtida quando a observação dos ritos pleta e modera o sentimento da música. A música é a suprema harmonia, os ritos são a suprema conveniência.
“Quando um grande homem instituir a música o os ritos, resplandecerão océu e a terra”.
No Céu estão as Constelações, sobre a Terra estão as formas. E assim os ritos que estão na dependência dos costumes de cada época são a separação do Céu e da Terra. A Música que une assemelha-se ao Céu, que é único; os ritos que dividem assemelham-se à Terra que é o plano da multiplicidade.A Música estabelece a harmonia e propaga a Divindade, assemelhando-se ao Céu. Os ritos, na dependência dos costumes de cada época, criam as diferenças e seassemelham à Terra. Quando os ritos e a música forem claros e completos, o Céu e a Terra cumprirão suas funções”.
Vemos assim, prevista num dos mais antigos livros da China sobre Música, a base da Eubiose. As sinfonias de Beethoven e a obra musical de Wagner interpretam, respectivamente, a Cosmogênese e a Antropogênese, baseadas na exposição e desenvolvimento de temas que traduzem expressões da Alma Universal, vibrando na Natureza.
De acordo com o que se observa na história das civilizações, a primeira manifestação musical se dá através do Ritmo, nos povos mais primitivos, a seguir surge a Melodia e, somente depois da civilização grega é que surge a Harmonia, com os recursos para resolver, as dissonâncias em consonâncias.
Quando Gounod compôs a sua Ave Maria, não a criou propriamente. Apenas objetivou a melodia que, subjetivamente sentiu estar contida no prelúdio de Bach. Não a criou, portanto. Apenas, como artista sincero, tendo ouvido aquela melodia, com os ouvidos da alma, objetivou-a para que toda a humanidade, ouvindo aquela melodia tão bonita, se identifique com a Divina Mãe de todas as religiões e de todos os ciclos.
Assim também, as regras da Harmonia musical não são criações de quem querque seja: sempre existiram como os mistérios da Criação e da Redenção, tendo como autor o próprio Eterno, a grande Lei, a própria Luz Divina, expressas pela Inteligência Cósmica, Inerente a Mercúrio, segundo as tradições.
Conforme ensinamento ministrado na Eubiose, sabemos que a nota MI, da região média do plano, produz no éter o símbolo de Mercúrio, o equlibrante da Balança Celeste, expressa por Vênus. Aí temos o mistério do Adam-Kadmon, sacrificando-se para a Redenção da Humanidade, através do Adam-Heve terreno. Tudo isto em virtude da chamada queda lunar que se deu na terceira etapa evolutiva, não permitindo que houvesse a evolução total daquela terceira etapa. Por essa razão, temos uma escala musical que traduz, na sua estrutura, o mistérioda queda lunar, apresentando-nos sete graus, todos eles procedendo por tons inteiros, mas não entre o terceiro e o quarto graus, onde o Intervalo é de semi-tom.- Por que razão, entre o terceiro e quarto grato não haveria um tom em lugar deum semi-tom?… Através da terceira nota da escala, vibra a Inteligência Cósmica, a expressão do Andrógino Celeste, muito bem traduzida no “Agnus Dei qui tollis peccata mundi”. Sim, para salvar os seres que ainda sofrer na consequência da terceira etapa evolutiva, a chamada queda lunar, e já atualmente preparando a Terra para uma Quinta etapa evolutiva, ligada ao ciclo de Aquários.
O conhecimento iniciático referente à Cosmogênese e à Antropogênese, ministrado aos membros da Eubiose, permite estabelecer perfeita analogia entre conceitos básicos admitidos na harmonia clássica musical e os fatos da chamada “queda dos Anjos”, ou “queda lunar” e da Redenção Humana, através do Santo Graal: Afirmam os tratadistas da harmonia musical clássica que, quando se encadeiam, no estado fundamental, o acorde do quinto grau seguido do acorde do quarto grau, dá-se a “falsa relação de trítono”, cujo mau efeito tem sido denominado “diabulus in musica”.
Estabelecendo, agora, analogia entre os sete graus da escala musical (e respectivos acordes) e as sete etapas evolutivas admitidas na tradição teosófica, poderemos compreender de que maneira o fato acima referido traduz, na linguagem musical, “a queda lunar, ou “queda dos Anjos”,: a chamada “queda lunar” resultou do fato de, antes de estar terminada a evolução da terceira etapa evolutiva, ter tido inicio a Quarta etapa, tendo como consequência, confundirem-se as características das terceira, quarta e quinta tônicas evolutivas, relacionadas, respectivamente, ao Passado, Presente e Futuro da Humanidade.
A cada civilização corresponde uma escala própria. Com muito mais razão, à civilização do Novo Ciclo – o Ciclo de Aquários – deve corresponder uma nova escala como base da música que lhe será peculiar, em virtude da Redenção da própria Humanidade. Sim, porque todos estes fatos, de queda lunar, etc., já pertencem ao passado da Humanidade, embora estejamos ainda em pleno Interregno entre o velho Ciclo (Piscis) que termina e o novo Ciclo (Aquários) que vibrará integralmente na Natureza redimida, no início do próximo milênio.
Cabe, ao nosso ver, aos compositores brasileiros, realizar o grande Ideal da Música Universal, como a linguagem Divina que há de Identificar todos os seres entre si. De acordo com Mário de Andrade, o compositor, em sua evolução, deverá conseguir, através dos temas folclóricos, penetrar no Inconsciente coletivo de seu povo e, então, sem precisar recorrer aos temas ligados ao passado, às tradições de seu povo, irá escrever livremente, mas como intérprete fiel daquele inconsciente coletivo, que traz em seu bojo todas as experiências do passado, E é nesse momento – dizemos nós – que lhe cabe ouvir com os ouvidos da Alma, a nova mensagem da Mãe Natureza, e transmiti-la a seu povo, conservando-se, portanto, fiel ao passado, às experiências decorrentes, e ao próprio Futuro, Impulsionando a sua Obra musical no Presente.Uma vez que temos, no Brasil, um tão grande caldeamento racial, é fácil compreender que, quando na fase final de sua evolução, os compositores brasileiros, chegarem a realizar a Música Brasileira, esta terá ultrapassado os limites de um simples nacionalismo, pois será uma síntese tão perfeita das mais variadas Influências, que será o ideal da Música Universal, confraternizando todos os seres.A este respeito, é Interessante lembrar as palavras do etnólogo mexicano, José de Vasconcelos:“É dentre as bacias do Amazonas e do Prata que sairá a raça cósmica destinada arealizar a concórdia universal, por ser filha das dores e das esperanças de toda a Humanidade”.
Essa Música Universal há de ser a linguagem que confraternizará todos oshomens e a causa originária dessa Música, vibrando efetivamente para todos os seres:ela Face da Terra, já é, presentemente, uma realidade e corresponde ao Novo Cântico a que se refere Davi era seu 150º Salmo.
Portadora das diretrizes deste Novo Ciclo, a Sociedade Brasileira de Eubiose construiu em São Lourenço, Sul de Minas, um Templo dedicado à Paz Universal e em homenagem ao Ciclo de Aquários, que corresponde ao que chamamos o Advento de Maitréia-Buda.
Publicado originalmente na Revista Dhârânâ – nº 13 e 14
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