Pensamento analítico X Pensamento sintético
Por Sansuke Watanabe
O mental concreto é a base do mental abstrato
O objetivo desse artigo é esclarecer um tema que costuma levantar muitas dúvidas e interpretações distorcidas sobre as reais características que diferenciam os estados de consciência do mental concreto e do mental abstrato. Para isso, o texto apresenta inicialmente as características operacionais do mental concreto para, em seguida, tratar do mental abstrato. Uma compreensão das características do mental abstrato é de fundamental relevância nesta atual Quinta Sub-Raça Germânica da Quinta-Raça Mãe Ariana, pois além da tônica desta última ser o alcance do estado de consciência abstrato, a atual Quinta Sub-Raça lança as bases e prepara o advento das futuras civilizações Bimânica e Atabimânica, nas quais o uso da mente abstrata terá lugar comum.
O mental concreto é de fundamental importância no processo de transformação da vida energia em vida consciência porque é ele que confere o estado de organização mental necessário para que a manifestação universal se objetive no Mundo dos Efeitos. O mental concreto é analítico, discursivo e o seu funcionamento está sempre atrelado a uma linguagem. Dessa forma, o mental concreto opera através de conceitos, termos, juízos e raciocínios.
Quanto à linguagem, que é a base operacional do mental concreto, existem três instâncias de referência associadas a um ser: o conceito, o termo e o ser propriamente dito. Por exemplo, pensemos no objeto “cadeira”. Partindo da referência mais sutil para a mais densa ou objetiva, existem três instâncias associadas:
a) O conceito de cadeira. É a ideia propriamente dita e guarda a essência do que é esse objeto. É o conceito de cadeira que a diferencia de um outro objeto como, por exemplo, um relógio.
b) O termo cadeira que serve de veículo de linguagem para o conceito de cadeira. Obviamente, em cada idioma teremos um termo que representa o mesmo conceito. Por exemplo, em português temos a palavra cadeira, em inglês o termo chair e em francês a palavra chaise.
c) O objeto cadeira propriamente dito. Ou seja, o ser objetivo ao qual está associado um conceito e um termo (dependente do idioma) que o representa.
Mas, afinal, o que faz de uma cadeira, uma cadeira e não um relógio, um sapato ou qualquer outro ser ou objeto? É o conjunto das suas qualidades ou atributos que faz de algo aquilo que é. Por exemplo, no caso do ser cadeira, o que a caracteriza são qualidades essenciais tais como: objeto que serve para acomodar pessoas sentadas com apoio para as costas. Como casos particulares, uma cadeira pode ser de madeira, de metal, de plástico, possuir quatro pernas ou possuir três pernas, ser azul, branca, vermelha, ter ou não um forro de tecido, etc. Mas, o fato é que todas as cadeiras, além das qualidades particulares do modelo considerado, possuem qualidades essenciais que fazem delas aquilo que são, no sentido de serem objetos que se prestam à finalidade à qual se destinam.
O mental concreto lida com esse tipo de estruturas lógicas. Assim, é fortemente dependente de uma linguagem que veicule os conceitos que, por sua vez, guardam a essência dos seres concretos ou abstratos. E é exatamente neste ponto que ocorrem as grandes confusões em relação ao mental concreto, pois muitos não compreendem que este também lida com abstrações. Mais claramente, o mental concreto opera, sim, com conceitos abstratos. A palavra abstrato deriva do latim Abstrahere, que significa “separado de”. Por exemplo, o conceito de brancura não possui existência objetiva, ou seja, não existe por si mesmo, pois depende de seres concretos para existir. De fato, para chegarmos ao conceito abstrato de brancura, partimos da observação dessa característica presente em vários objetos concretos: um papel branco, uma parede branca, uma ave branca, uma cadeira branca, um tecido branco e assim por diante. Então, a mente “separa” (abstrai) esse atributo dos diferentes objetos que a possuem e chega ao conceito abstrato de brancura. Entretanto, os conceitos abstratos são perfeitamente manipuláveis pelo mental concreto dentro de uma estrutura lógica. O exemplo mais emblemático desse fato é a própria Matemática, cujos objetos de conhecimento são puramente ideais (abstratos) e não reais. A Matemática é um gigantesco edifício do pensamento humano construído pela organização de conceitos abstratos sobre o alicerce da Lógica. Apesar disso, resulta de um profundo e sofisticado uso do mental concreto.
Por ser analítico e discursivo, o mental concreto faz uso das estruturas lógicas e linguísticas para estabelecer juízos e raciocínios sobre os conceitos veiculados através dos termos que os representam. Esses raciocínios podem ser indutivos ou dedutivos. Os raciocínios indutivos são típicos das ciências e partem do particular para o geral. Por sua vez, os raciocínios dedutivos partem do geral para o particular e são típicos da Matemática, da Lógica e da Filosofia.
O desenvolvimento do mental concreto é condição sine qua non para se atingir o estado de consciência do mental abstrato. Ou seja, não se pode alcançar o mental abstrato por saltos ou milagres, mas como uma consequência natural do refinamento progressivo do mental concreto.
Uma metáfora que esclarece as gradações da inteligência
Como dissemos, o acesso ao mental abstrato não ocorre de forma atropelada e nem aos saltos. Pelo contrário, é um estado alcançado através dos próprios esforços e resulta de um contínuo e gradual aprimoramento tanto do mental concreto, quanto do veículo psíquico. Portanto, é uma consequência do processo de autoeducação mental-emocional de cada um. Com efeito, à medida que o indivíduo refina o uso do mental concreto e procura sutilizar suas emoções, ele amplia a sua capacidade de percepção da realidade ou, de modo equivalente, aperfeiçoa e amplia o seu estado de consciência. Dessa forma, o mental abstrato é alcançado naturalmente como uma condição limite do uso do mental concreto orientado por uma psiquê refinada.
Para compreender isso de forma mais clara, vamos apresentar uma metáfora para ilustrar o gradual despertar da Inteligência ou, em outras palavras, a progressiva ampliação do estado de consciência. Assim, um indivíduo com estado mental-psíquico ainda muito embrutecido não consegue perceber nem sentir mais do que um aspecto por vez. As suas perspectivas são demasiadamente restritas e, portanto, ele percebe somente uma coisa por vez. Por exemplo, ou percebe o preto
ou percebe o branco
mas não é capaz de perceber as duas tonalidades simultaneamente. Ou seja, se ele percebe o branco, nem sequer cogita a existência do preto e, por outro lado, se percebe o preto, não consegue conceber existência do branco. Os seus traços de personalidade típicos são o sectarismo, o partidarismo e o maniqueísmo. Pessoas assim comportam-se como se somente eles estivessem com a verdade porque o uso que fazem do mental concreto ainda é muito restrito uma vez que é limitado às faixas de frequências mais baixas. Sob o ponto de vista emocional, são pessoas arrogantes, intolerantes e gratuitamente agressivas na defesa dos seus pontos de vista, exatamente porque as suas emoções ainda são tão brutas quanto as suas capacidades mentais.
À medida que o indivíduo aprimora um pouco mais seu mental concreto e seu estado psíquico, conquista uma percepção menos restrita da realidade e, ao contrário de sua condição anterior mais primitiva, consegue perceber, ao mesmo tempo, o preto e o branco.
Isto representa um avanço, pois significa que seu progresso psíquico-mental já o permite enxergar e sentir mais do que simplesmente um único ponto de vista sobre os fatos. Contudo, embora já consiga perceber os aspectos polares, ainda continua a agir nesses extremos. Ou seja, a forma como conduz e administra a própria vida oscila entre comportamentos extremados. Isso acontece porque o estado mental-psíquico do indivíduo ainda não o permite perceber o meio-termo, o ponto de equilíbrio, embora já tenha consciência da existência dos extremos preto e branco.
Com um pouco mais de elaboração mental e psíquica, o indivíduo sobre mais um degrau e atinge um novo patamar perceptivo. Assim, além de enxergar simultaneamente o preto e o branco, passa a entender que entre um e outro extremo existe um tom intermediário. Ou seja, passa a conceber e enxergar o tom de 50% de cinza que está no exato ponto mediano entre o totalmente branco e o totalmente preto, conforme representa a ilustração abaixo.
Ora, perceber o tom intermediário de cinza entre o preto e o branco, além de ampliar o seu espectro de percepção, fornece ao indivíduo a possibilidade de agir de forma mais equilibrada porque, agora, passa a ter consciência do meio-termo. Essa percepção mais ampliada resulta do seu empenho em adquirir novos conhecimentos, expandindo a sua visão de mundo, e de se permitir novos empenhos de autoconhecimento que conduz a um maior refinamento psíquico. Apesar disso, mesmo já concebendo a possibilidade do cinza, essa condição ainda representa uma utilização rudimentar do mental concreto e, por conseguinte, ainda está muito distante do estado de um mental abstrato. Por exemplo, seguindo nossa metáfora, digamos que, para compreender e/ou sentir determinado aspecto de um fato ou circunstância, o indivíduo necessite perceber uma nuance cinza de, digamos, 25%. Esse suposto indivíduo não conseguirá, pois ainda não possui representação mental-psíquica para esse mais refinado nível de percepção. De fato, a única referência de cinza que possui depois do branco é o tom de 50%, conforme ilustra a figura abaixo.
Com o passar do tempo e como resultado dos seus próprios esforços de auto aperfeiçoamento e autoconhecimento, novas possibilidades de percepção decorrentes do contínuo aprimoramento mental-psíquico vão proporcionando ao indivíduo enxergar, segundo a metáfora, novas tonalidades de cinza. Por exemplo, começa a perceber que entre o branco e o cinza a 50%, existe o cinza a 25% e entre o cinza a 50% e o preto, existe o cinza a 75%, como ilustra a imagem abaixo.
Assim, à medida que avança em seu processo iniciático, seja de forma indireta, seja de forma direta recebendo uma iniciação simbólica e transformando em iniciação real, o indivíduo vai ampliando cada vez mais a sua inteligência e consequente estado de consciência e percepção da realidade. Seguindo nossa metáfora, ao refinar o uso do mental concreto e sutilizar suas vibrações psíquicas, o indivíduo passa a perceber uma quantidade cada vez maior de nuances de cinza entre o branco e o preto, conforme representa a sequência de ilustrações abaixo.
Quanto mais aumenta o seu espectro perceptivo, mais opções de escolhas, comportamentos, pensamentos, sentimentos e possibilidades de ação vai adquirindo. Com efeito, quanto mais cultura adquire e quanto mais exercita a capacidade de pensar construtivamente, mais refinado se torna o seu mental concreto. Em paralelo, quanto mais fundo mergulha na busca do seu autoconhecimento, mais as suas emoções se sutilizam e se ampliam as suas possibilidades de reações e respostas aos estímulos emocionais. Portanto, cultivar um mental concreto cada vez mais aprimorado não significa apenas tornar-se cada vez mais culto e hábil, mas também psiquicamente refinado. Mas, afinal, quando se atinge o mental abstrato? De acordo com a metáfora que adotamos, níveis cada vez mais refinados no uso do mental concreto foram comparados a um número cada vez maior de percepções de tons de cinza. Entretanto, em se tratando do mental concreto, esses níveis de percepção são sempre finitos, por maiores que sejam. Isso ocorre porque o mental concreto é analítico, discursivo, opera sobre conceitos, termos, raciocínios e juízos. Ou seja, a modulação do pensamento concreto é limitada por alguma forma de linguagem. Em contrapartida, o mental abstrato é sintético, arquetípico e de natureza infinita. Portanto, conforme a metáfora que estamos seguindo, a passagem de estado do mental concreto para o mental abstrato ocorre quando ao invés de um número finito de tons de cinza entre o branco e o preto passamos a ter um número infinito de nuances, ou possibilidades de percepção, representado por um gradiente contínuo de tonalidades. Ou seja, o estado de consciência do mental abstrato é a situação limite ou extrema do mental concreto em que os níveis de percepção deixam de ser finitos e tornam-se infinitos, conforme ilustra a figura abaixo.
Mas, por que o mental abstrato exige um espectro infinito de percepções? A resposta é simples: porque as entidades mentais sobre as quais opera também possuem natureza infinita. Essas entidades são os arquétipos. Ou seja, o mental abstrato não lida com conceitos e raciocínios finitos, como o mental concreto, mas opera através de correlações diretas entre arquétipos, entidades abstratas sobre cuja natureza tratamos na próxima seção.
Arquétipos
Sob o ponto de vista etimológico, a palavra arquétipo origina-se do grego arché que significa parte superior ou princípio e tipós que significa marca ou tipo. Portanto, linguisticamente, arquétipo tem o sentido de princípio que tipifica ou caracteriza algo. Contudo, em termos esotéricos, o sentido de arquétipo vai muito mais além.
Em termos simples, um arquétipo é a ideação plena e abstrata de algo. Mas, para compreender o que isto significa, precisamos de um exemplo. Já vimos que o que faz de algo aquilo que é são as suas qualidades ou atributos e tomamos como exemplo o objeto cadeira, que fica caracterizado por ser um objeto que serve para acomodar pessoas em posição sentada com apoio para as costas. Vamos, então, prosseguir com esse mesmo exemplo para aproximar a ideia de arquétipo. Assim, considere o conjunto de todas as cadeiras que já foram produzidas na história humana, desde a primeira mais antiga até a mais moderna e recente. Com isso, suponha que fosse possível escrever em uma gigantesca lista a relação de todas as qualidades já possuídas por todas essas cadeiras que já existiram no passado e que existem na atualidade. Essa lista hipotética seria bem extensa, pois conteria todos os tipos de materiais já usados nas confecções das cadeiras, todas as cores, todos os pesos, todas as medidas, todas as texturas usadas na cobertura dos assentos e encostos, todas as formas, todos os modelos e assim por diante. Em outras palavras, essa lista das qualidades de todas as cadeiras já existentes é, certamente, muito maior do que o conjunto das qualidades de alguma cadeira em particular. Isto é, as qualidades de qualquer cadeira já construída estarão, por certo, contidas nessa lista, mas não o contrário.
Entretanto, apesar de muito extensa e abrangente, essa suposta lista de qualidades ainda não seria o arquétipo do objeto cadeira. De fato, apesar de muito extensa, essa lista seria finita pois a relação de todas as qualidades das cadeiras já existentes é, obviamente, limitada, pois diz respeito às cadeiras já efetivamente construídas até hoje. O fato da lista limitar-se às qualidades das cadeiras já fabricadas até hoje, permite que, digamos, amanhã uma nova cadeira fosse construída com características e qualidades originais que ainda não estivessem relacionadas na nossa lista das qualidades das cadeiras já produzidas até a data de hoje.
Então, o que é o arquétipo de cadeira? É a generalização dessa lista a uma condição infinita! Ou seja, o arquétipo de cadeira é como uma lista infinita contendo todas as possíveis qualidades de todas as cadeiras que já existiram, que existem e que ainda estão por serem criadas. Portanto, como dito acima, um arquétipo é a ideação plena e abstrata de algo. É plena porque é infinita e temporalmente ilimitada. É abstrata porque não diz respeito a nenhum ser em particular, mas a todos os possíveis seres de sua categoria que já existiram, existem e ainda estão por existir.
O mental abstrato
Agora que sabemos que o mental abstrato opera através das relações entre os arquétipos, fica fácil compreender porque as suas realidades não podem ser comunicadas através de uma linguagem. De fato, toda linguagem é uma forma de limitação do pensamento na sua concepção mais ampla e como os arquétipos possuem natureza ilimitada, logo, não podem ser expressos através de uma linguagem, que os limitaria.
Assim, a melhor forma de pensarmos no mental abstrato é como um grande manancial, um imenso repositório único do pensamento cósmico universal. Portanto, atingir o estado de consciência do mental abstrato significa conquistar pelos próprios méritos a capacidade de se conectar a esse manancial. Por esta razão, o mental abstrato opera em rede e sua natureza é de compartilhamento e não de isolamento. Assim, quando se atingir a condição da civilização Bimânica, todos os indivíduos estarão mentalmente interligados, porque todos se encontrarão em estado de conexão natural com o manancial do mental abstrato.
Ao contrário do mental concreto que é analítico, o mental abstrato é sintético. Isto significa que acessá-lo significa apreender os tons da verdade de forma direta, sem a necessidade da intermediação de nenhuma forma de linguagem. É como perceber todos os ângulos, todas as perspectivas, todos os pontos de vista de algo de uma só vez.
Em Sânscrito, o mental abstrato é mais apropriadamente referido como Manas Taijasa que significa um mental internamente brilhante, exatamente porque esse manancial é acessível, mas não comunicável. Contudo, embora as realidades do mental abstrato não possam ser comunicadas através de uma linguagem, os seus efeitos podem ser sentidos ao nível do mental concreto. De fato, as atividades mais refinadas do mental concreto são valiosos estímulos para elevar as suas frequências vibratórias e torna-lo mais próximo das fronteiras de Manas Taijasa.
Portanto, são estimulantes do mental abstrato as atividades mentais concretas que lidem com abstrações, com padrões, com elementos de natureza sintética como símbolos e imagens, com processos sistêmicos, integrativos e compartilhados em rede. Por esta razão, as artes plásticas, a música, a matemática, a filosofia e a meditação são valiosos estimulantes do quinto estado de consciência abstrato!
Este autor colabora com a Revista PoliÉtica por meio de conteúdos próprios, portanto, seus textos não refletem, necessariamente, o nosso ponto de vista.
Sansuke Watanabe é Matemático com Graduação em Matemática Pura, Mestrado em Computação Quântica, ambos pela UFPE, e Doutorado em Matemática Computacional pelo Laboratório Nacional de Computação Científica. Professor Adjunto da UFRPE e atua na área de modelagem física, matemática e computacional de sistemas fisiológicos complexos. Membro da Sociedade Brasileira de Eubiose. Colaborador da Revista PoliÉtica.