ENTREVISTA COM LEONARDO FARIA JEFFERSON DE SOUZA

Em busca da neutralidade ativa

ENTREVISTA COM LEONARDO FARIA JEFFERSON DE SOUZA

Política, desafios, rumos e sonhos à frente da Eubiose

Leitura do Manifesto Eubiótico no Congresso Nacional
Na estreia da Revista PoliÉtica, entrevistamos o Presidente da Sociedade Brasileira de Eubiose, o senhor Leonardo Faria Jefferson de Souza. 

Seus pais, Hélio Jefferson de Souza Filho e Maria José Faria, tiveram dois filhos, o nosso ilustre entrevistado e seu irmão mais novo, Guilherme Faria Jefferson de Souza.

Nascido em 19 de abril de 1988 na cidade de São Lourenço-MG, por influência do pai e certamente por seu gosto apurado, aprecia MPB e rock. Um dos livros que mais o marcaram foi “Ocultismo e Teosofia” de Henrique José de Souza e Mário Roso de Luna. 

Flamenguista por herança familiar, não acompanha assiduamente futebol; no entanto, quando o assunto é política, ele sabe tudo e mais um pouco. Humildade e grandeza o definem bem à frente de um trabalho tão nobre quanto o da Sociedade Brasileira de Eubiose.  

Casado com Mariana Jarjour B. Jefferson de Souza, ele leva um estilo de vida simples e familiar. Formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Taubaté-SP, o bisneto do fundador da Sociedade Brasileira de Eubiose, Henrique José de Souza, que assumiu a Presidência recentemente, concede-nos esta entrevista à varanda da mística Vila Helena. São 16 horas do dia 8 de julho de 2023, sábado de temperatura amena, ladeados pelo Templo de Nova Xavantina, cercados pelos jardins do cerrado, ao som dos pássaros e tendo ao fundo o Rio das Mortes, iniciamos a entrevista.

Ezio Garcia: Venerável, eu via que você sempre acompanhava seu pai, Venerável Helinho, e seu avô Hélio, nas viagens, visitas e eventos da Eubiose, desde pequenininho, você, ali do lado… Então, eu queria saber, você imaginou que ocuparia essa função, que já foi do seu avô, em algum momento você pensou nisso?

Bom, Ezio, desde pequeno a gente tinha sempre o meu pai dentro de casa, trazendo os valores da Eubiose pra nós, mas nunca, assim, de uma forma incisiva, sempre nos deixando muito à vontade. Eu sempre ouvia falar da linha sucessória que existe dentro da Instituição e da Obra: um dia será você e tal. Isso para mim era uma coisa muito distante, ainda muito vaga, porque se as coisas tivessem acontecido como eu imaginei, não como a Lei quis, de que no momento em que meu avô deixasse o cargo, seja por falecimento, como ocorreu, ou por vontade própria, meu pai teria assumido, né? Se tivesse vivido mais tempo. Então, na minha cabeça, após aquele período do meu avô nas funções, ainda teria, por um período, o meu pai. Aí, sim, talvez fosse um momento de eu começar a me preparar, sabendo que, teoricamente, o próximo seria eu.

“Nunca estive distante da Obra, fiz os Graus por correspondência, mas as coisas só começaram a acontecer após 2015.”

Mas quando meu pai faleceu, a gente teve que fazer essa correção de rota e, num primeiro momento, meu avô também se viu, assim, sem opções, porque eu também não estava tão próximo da Sociedade, estava morando fora de São Lourenço, estudando, trabalhando, enfim, tinha seguido outros caminhos.

Nunca fiquei distante da Obra, claro. Inclusive, estava fazendo os Graus, na época ainda por correspondência. Mas as coisas começaram a acontecer, de fato, após 2015, quando eu tive uma aproximação maior do meu avô e ele viu em mim um potencial para assumir alguma responsabilidade dentro da Sociedade, e foi quando fui investido na função que era do meu pai, de Assessor Especial do Presidente.

Isto foi em julho de 2015. Dali em diante a gente se aproximou muito e eu fui adquirindo experiência, ganhando confiança e ele foi vendo em mim, realmente, uma possibilidade. Também tomei isso como uma missão, ainda que sem pretensão nenhuma no início, mesmo que as coisas pudessem caminhar para o que é hoje, eu não tinha nenhuma pretensão. Então, a gente foi caminhando, naturalmente, dia a dia, ganhando confiança, e acredito que pude ver algo mais palpável, mesmo, no momento em que a Tríade, Veneráveis Hélio, Jefferson e Selene, convidaram-me para compor a Presidência da Sociedade como terceiro vice-presidente,  e ali, dentro do que foi proposto no Estatuto Social, que foi aprovado na assembleia, definia-se, também, uma sucessão dentro das funções, em que na falta do Presidente e do primeiro vice-presidente, assumiria  o Terceiro Vice-Presidente, que era o meu cargo,  e isto acabou acontecendo, automaticamente, devido ao falecimento dos dois.

Naquele primeiro momento, com o falecimento do Venerável Jefferson, eu passei a ter autonomia de Primeiro Vice-Presidente, ainda que isso nunca tenha sido oficializado. Quando a gente foi oficializar, meu avô faleceu e as coisas mudaram de novo, e aí, com a vacância na presidência, com o Falecimento do meu avô, em 30 de setembro de 2021, a gente fez o processo todo de assembleia, para que eu pudesse estar devidamente nomeado nas funções, ainda que o estatuto já previsse isso.

E dentro da Ordem do Santo Graal, realmente, existe uma orientação deixada pelo Professor, daquelas linhas sucessórias de filho mais velho para filho mais velho. Ainda que eu entenda que todo mundo que está na família, hoje, não obrigatoriamente tem que participar, a pessoa tem que sentir isso dentro dela, tem que ser uma coisa natural. E eu tive esse despertar, também, em determinado momento, não foi desde sempre assim. Foi um período aí de quase sete anos nessa preparação, e hoje eu vejo como uma grande preparação.

Meu avô estava ali, desde o início, me preparando, e a gente não sabia quando isso ia acontecer, e acabou acontecendo em setembro de 2021, quando ele faleceu. E estamos aí há um ano e meio trabalhando, devidamente nomeado nas funções, tanto exotérica, como Presidente da Sociedade Brasileira de Eubiose, como na função esotérica de Grão-Mestre da Ordem do Santo Graal.

E a gente vem… Segue trabalhando, vejo que temos muitos projetos pela frente. O ano que vem é simbólico, é o do centenário da Instituição (Eubiose). Então, começo a colocar a minha forma de enxergar as coisas, sempre trazendo o legado daqueles que me antecederam, mas, ao mesmo tempo, imprimindo a minha forma de ver as coisas.

Nunca foi minha intenção fazer choque de gestão, nem havia necessidade disso, mas, ao mesmo tempo, tenho um entendimento diferente em alguns aspectos da Sociedade, principalmente na questão da modernização, da gente consolidar o crescimento da SBE de forma organizada. Muita coisa está acontecendo, e queremos coroar muitas coisas desses projetos no ano que vem, do Centenário, para simbolizar mesmo um novo momento da Sociedade, já o início de um segundo centenário.

Então, eu acredito que estamos num bom caminho. Tenho tido o apoio muito grande dos irmãos da Sociedade, que para mim era fundamental ter esse apoio, e, principalmente, da Venerável Selene. Claro que a gente trabalha juntos dentro da Presidência, e a gente tem essa sintonia para trabalhar junto com os demais Mestres de Ordens, no sentido de levar a Eubiose para o mundo.

“Mas qual a linguagem, qual o formato de linguagem a gente deve adaptar para que essas pessoas possam se sentir tocadas pela Eubiose?”

Bom, Mauro, vou começar pelos objetivos internos, que eu acredito ser algo mais simples da gente equacionar. Acho que precisamos melhorar um pouco as relações institucionais, e a relação entre os membros. A gente vê, às vezes, pessoas que se distanciam da Sociedade por conflitos internos, por diferença de opiniões, opiniões contrárias que não são respeitadas. Então, a gente tem que melhorar a convivência entre os Irmãos.  Se nos denominamos uma Fraternidade, a gente tem que tomar como princípio o respeito e a harmonia. Então, é preciso ter essas relações melhor trabalhadas entre os membros. Acho que é o nosso maior desafio, internamente.

Externamente, eu penso que o desafio maior, hoje, é a gente conseguir uma renovação dentro da Sociedade. Falo de novos membros chegando, não me refiro à idade, a idade não importa, mas ter novos membros chegando para a Sociedade, para que haja uma renovação. Vejo que até eu mesmo sou um exemplo de renovação dentro da SBE. E é necessário, porque, senão, o trabalho vai parar uma hora dessas, né? Então, precisamos ter essa renovação.

E o desafio mesmo é como atingir essas novas gerações com o conhecimento, que a gente sabe que é atemporal e que ele pode ser aplicado em qualquer momento histórico da humanidade. Mas qual a linguagem, qual o formato de linguagem a gente deve adaptar para que essas pessoas possam se sentir tocadas pela Eubiose? Eu entendo como sendo esse o desafio: adaptar a linguagem para os dias de hoje e quais os meios que a gente precisa usar para conseguir chegar nessas pessoas.

“Internamente, temos que melhorar as relações entre os Irmãos. Externamente, temos que atrair novos membros, renovar. Eu mesmo sou um exemplo de renovação dentro da SBE.”

O meio virtual é um fato. Principalmente, depois da pandemia, isso se intensificou muito.  Acho que já era o caminho natural, e ela só antecipou o que aconteceria, daqui a cinco ou dez anos. Atualmente, a gente tem o meio virtual como uma realidade. O EAD, hoje, é o maior Departamento da Sociedade. Adaptar a linguagem para os meios, que sejam os virtuais, de acessar o discípulo, esse potencial membro da Sociedade que ainda está adormecido.

A gente vê, é recorrente dentro da Sociedade, as pessoas chegarem e nos falar: “Poxa, eu procurei por isso a minha vida inteira e não sabia da existência da Eubiose.”  Então, temos que possuir ferramentas para que as pessoas saibam da existência da Eubiose no mundo, como sendo uma alternativa para a vida delas. O que ela vai fazer aqui dentro, se ela vai seguir adiante nos Graus, é decisão dela, a gente tem que dar as bases, o mínimo, para que tenham, aqui dentro, uma convivência harmoniosa, com uma estrutura  funcionando e agradável para receber as pessoas. É muito dela, também, se conectar com aquilo, mas para que ela, ao menos, saiba que a gente existe. Às vezes, as pessoas nem sabem da nossa existência, ficam procurando a vida inteira e nem sempre acha.

“O EAD, hoje, é o maior Departamento da Sociedade.”

Então, como a gente pode mostrar para o mundo que estamos aqui e existimos, que há todo esse conhecimento que o Professor trouxe à luz, o conhecimento da Eubiose? Como chegar nas pessoas, hoje, e com uma linguagem adaptada para os dias atuais; a essência jamais vai mudar, mas a linguagem tem “N” formas de trabalharmos, e qual é a ideal para hoje? Eu entendo como sendo o nosso desafio, mesmo sabendo que estamos avançando bastante dentro da Diretoria de Ensino, adequando muitos processos. E eu vejo que devemos estar presentes nos meios digitais, redes sociais, no mundo moderno, e a gente tem que ir se adaptando às demandas atuais.

Obs.: A título de esclarecimento, o irmão Fernando Leça não estava presente na entrevista realizada com o Venerável Leonardo Faria Jefferson de Souza, porém, o irmão enviou sua pergunta aos entrevistadores: os irmãos Ezio Garcia e Mauro Leslie. Segue a pergunta…

Fernando Leça: Venerável, qual é o alinhamento da SBE, no sentido de valores em relação à tônica da ética ou da política? Nós somos de centro, do caminho do meio? E como é a questão da polaridade, como você vê estas questões?

Em relação a essa pergunta, a tônica da ética ou da política, o Professor já tem um termo que reúne, perfeitamente, estas duas questões: a Poliética. A ética dentro da política deveria ser um princípio básico de qualquer pessoa que queira concorrer a um cargo público, que pretende representar sua cidade, seu estado ou seu país.

Há alguns anos atrás, nós fizemos o Manifesto Eubiótico. Eu diria que é um programa de governo que qualquer político pode trabalhar, porque atende às carências da população brasileira. A gente fez isso para o mundo, não é só para o Brasil; as demandas são nacionais, mas muito daquele manifesto pode ser aplicado em outros países. Quanto ao Brasil, particularmente, trabalhar aquilo que ali propomos seria uma grande solução para boa parte dos problemas brasileiros, hoje, mas vemos que, infelizmente, muitos desvirtuam a possibilidade que eles têm em mãos – de mudar o destino da Nação -, para interesses próprios, escusos, ou são forçados a fazer parte de uma maioria, enfim, abandonar o ideal a que se propuseram.

“Nós temos que falar de política, sim. Nosso Estatuto nos define como apartidários, mas não como apolíticos. Então, podemos falar de política, mas jamais levantar bandeira, defender ideologias…”

Hoje, infelizmente, é um meio que foi muito deturpado por maus exemplos, mas a gente nunca pode perder a esperança na política. A ética é o princípio básico da política. E a questão sempre muito comentada, se a SBE tem um posicionamento, seja de centro, direita, de esquerda, eu entendo que sempre temos que prezar pela neutralidade nesse caso. Nós temos que falar de política, sim. Nosso Estatuto nos define como apartidários, mas não como apolíticos. Então, podemos falar de política, mas jamais levantar bandeira, defender ideologias, porque todos que estão aqui dentro podem ter o entendimento que quiserem em relação à política, a gente não pode privar ninguém da orientação política, ou mesmo qualquer outra orientação, pensando numa forma mais ampla. Mas, uma vez compactuando dos ideais eubióticos, ele é bem-vindo. Não podemos e não devemos entrar nesse mérito.

Se em algum momento houve o entendimento de que a Sociedade teve uma tendência, para qualquer sentido que fosse, foi um equívoco, porque isso não representa a posição institucional da SBE, nem mesmo a minha particular enquanto Presidente, que é claro, eu  a tenho enquanto eleitor, cidadão, e que também jamais vai expressar a opinião oficial da SBE, que, sim, nesta questão prioriza, vamos dizer, o caminho do meio. Eu acho que, uma vez que passamos por um processo eleitoral que seja devidamente justo e democrático, só nos resta respeitar aqueles que foram eleitos, respeitar as instituições, os mandatários, e tentar trabalhar junto com aqueles que estão na prática, hoje, desempenhando essas funções, mas sempre primando pela neutralidade. E o último ponto aqui da pergunta do nosso irmão Fernando Leça, como é a da polaridade:  infelizmente, hoje, a polaridade está muito aflorada, não só no nosso meio, mas na sociedade como um todo.

“Como a gente pode mostrar para o mundo que estamos aqui e existimos, que há todo esse conhecimento que o Professor trouxe à luz, o conhecimento da Eubiose?”

Na foto, da esquerda para a direita: Mauro Leslie, Venerável Leonardo Faria Jefferson de Souza e Ezio Garcia. Crédito: Mariana Jarjour B. Jefferson de Souza.

“Mas se a gente conseguisse, pelo menos, entender a opinião alheia e respeitá-la, nós já conseguiríamos trabalhar a polaridade, tranquilamente, pois ela é uma realidade na nossa vida.”

Nessa última eleição, mesmo, tivemos uma polarização muito grande, e isso já vem se repetindo nos últimos anos; mas se a gente conseguisse, pelo menos, entender a opinião alheia e respeitá-la, nós já conseguiríamos trabalhar a polaridade, tranquilamente, pois ela é uma realidade na nossa vida, em todos os aspectos; mas na política, onde a gente tem isso, ela está nos dois extremos, e nunca são positivos os extremos, nunca são interessantes. Se respeitarmos a opinião que é diferente… pode até não entender… “Não entendo porque a pessoa pensa dessa forma, mas respeito, porque somos irmãos, somos uma fraternidade, e respeito”, já estaria resolvido.

Tivemos meses conturbados, de pessoas se afastando da Sociedade por brigas internas, por falta de respeito a opiniões contrárias, e a gente sempre tentando apaziguar, sempre tentando trabalhar esse caminho do meio, da neutralidade, e o caminho do respeito mútuo; pois a polaridade vai existir sempre, em todos os aspectos da vida, e é até positivo, mas na política a gente vive esta questão, que devemos tentar fazer uma coisa mais harmônica.

Ezio Garcia: Venerável, fale um pouco sobre a Convenção em Portugal deste ano… Pelo que saiu nas redes sociais, parece que foi muito significativa. Conte-nos, também, sobre a participação da COGEP nesse evento.

Foi, realmente, um momento muito gratificante para mim, enquanto Presidente, ter podido realizar essa Convenção com os nossos irmãos de Portugal, que residem fora do Brasil. O que tivemos notícia é que foi uma das maiores convenções já realizadas em Portugal, com exceção, me parece, da primeira edição em 1991, que teve um público um pouco maior, mas pelo que houve de relatos, foi a maior… segunda maior, né? Foram 70 pessoas, entre brasileiros e portugueses. Foi muito gratificante o nível das palestras e o convívio como um todo, eu entendo que foi o principal diferencial dessa Convenção.

Não que as outras não tivessem sido, mas foi uma harmonia muito expressiva, foi consenso entre todos os presentes de que foi uma Convenção diferente, a gente não sabe dizer o porquê, mas, talvez, pelo período que ficamos afastados, não tivemos a Convenção que teria sido há dois anos atrás. Então, foram quatro anos sem podermos nos encontrar, o pessoal de lá estava com essa expectativa, também, devido a tudo que passamos com a pandemia. E nós daqui, também, de podermos estar lá com eles. Foram muito receptivos, como sempre.

Foi uma integração, assim, a gente ver pessoas de outras culturas, que também enxergam a Eubiose com todo o seu potencial, assim como nós, mas que estão distantes, geograficamente, dos nossos Templos, de nossos Sistemas Geográficos.  Então, nós temos sempre que valorizar o empenho dessas pessoas, que, mesmo estando distantes dos nossos Templos e cidades sagradas, têm o mesmo empenho, o mesmo valor, trabalham com o mesmo afinco. Sempre que possível eles vêm, é claro. Sentimos que eles têm o mesmo empenho que temos aqui no Brasil.  Foi esse toque diferente que a gente conseguiu perceber lá em Portugal.

E a COGEP teve, claro, uma participação importante, com o próprio Coordenador, nosso Irmão Fernando Leça, que estava presente e numa das palestras ele falou sobre o trabalho da Cogep, já lançando isso de uma forma internacional, como a gente disse: o próprio Manifesto Eubiótico pode ser aplicado em outros países. Então, nós estamos internacionalizando o trabalho da Cogep e foi isso que nosso irmão Fernando fez lá, juntamente com o atual Administrador de Lisboa, nosso Irmão José Serrão. Tiveram esse momento de falar da Cogep em termos de Portugal, de Europa. Então, foi realmente uma Convenção muito especial.

Mauro Leslie: Venerável Leonardo, sobre a vida social. Como você concilia dever com lazer?  O que você gosta de fazer na vida pessoal, qual o seu passatempo preferido?

Bom, acho que conciliar o lazer com dever não é problema, mas eu prefiro separar as coisas, acho que tem o momento de a gente falar sério e tem o de brincar. E muitas vezes dá para trabalhar os dois juntos, mas eu vejo que, principalmente, o trabalho que faço na Sociedade requer uma seriedade, que muitas vezes você tem que, realmente, primar pelo dever. O lazer podemos deixar para outro momento, como um final de semana.

“Não sou muito fã de futebol, mas tenho que honrar a tradição da família: sou Flamengo.”

Temos os nossos momentos de confraternizar, que são importantes. Em todas as nossas Convenções temos esses momentos. É fundamental ter essa oportunidade de descontração entre os irmãos. Dá pra conciliar, com certeza, mas eu prefiro separar, na maioria das vezes, as duas situações.

E em relação ao passatempo favorito, hoje me considero uma pessoa caseira, muita coisa em casa, né, um churrasquinho no final de semana, com os amigos, família. Assistindo alguma coisa na televisão, uma série, acho também que a gente tem que ter esses momentos de se desligar um pouco, de descontrair mesmo, seja para estar com os amigos, seja para fazer alguma outra coisa, passear, viajar. E mesmo depois dessa fase aí que a gente passou (referindo-se à pandemia), eu continuei bastante caseiro, fazendo alguma coisa com a minha esposa, pomos algo para assistir só pra se distrair, desligar, aquele momento que você quer só relaxar.

Ezio Garcia: Você gosta de cozinhar ou não? Seu pai gostava.

Meu pai gostava muito, meu avô também, eu, infelizmente, não herdei esse dom… (risos), mas eu me viro bem, não passo fome, não, consigo fazer algumas coisas. A Mariana diz que gosta da minha comida, mas eu acho que não chega nem aos pés do que eles foram como cozinheiros (risos). Você falou em futebol, eu não me considero uma pessoa muito fã de futebol, tenho o meu time, mas não sou muito de acompanhar, e nunca fui também de jogar (risos).  Ultimamente, tenho sido mais caseiro, com atenção à família.

Ezio Garcia: Falando de futebol, é claro que você é são-paulino, né? (risos)

Não. Tem que honrar a tradição da família: Flamengo! (risos).

Mauro Leslie: O Instituto Cultural Brasileiro Hélio Jefferson de Souza Filho – I-CULTURAL, criado em 2013, com a finalidade de promover ações culturais, sociais, formação educacional e profissional, teve como primeiro presidente o seu pai. Depois, com o falecimento dele, seu avô, o senhor Hélio Jefferson de Souza, tornou-se o presidente do Instituto, justamente assumindo o lugar do filho. Hoje, Venerável Leonardo, o senhor acumula mais essa função, a de presidente do I-CULTURAL, devido ao falecimento do senhor Hélio.  Fale um pouco sobre o que esperar dessa instituição.

Bom, a questão de estar hoje, também, na função de Presidente do Instituto Cultural Brasileiro: na época, quando foi feito o convite pela equipe que o compunha, para realizarmos a assembleia, até fiquei um pouco reticente, com a preocupação de não conseguir conciliar com as responsabilidades que eu tinha assumido na SBE, mas aceitei e fui eleito Presidente; e a gente vem trabalhando.

Temos uma diretoria composta. Meu pai foi, realmente, o primeiro presidente. Meu avô, por um período. E o que eu vejo no Instituto I-CULTURAL é que a gente tem uma ferramenta muito poderosa nas mãos, mas com potencial ainda pouco explorado. Justamente, talvez, porque todos nós, que somos componentes, estamos também com várias outras demandas de trabalho acumuladas. Temos o Fernando Leça, que também acumula função no I-Cultural, e outros irmãos que o compõem, desempenhando funções nos seus Departamentos.

Então, a gente tem, talvez, que começar a priorizar o I-CULTURAL, para explorar esse potencial dele. Nós já temos tudo formalizado, fizemos todo o processo burocrático necessário. Hoje nós podemos desenvolver projetos, pleitear verbas que são possíveis para um Instituto como o nosso, mas ainda falta explorar melhor esse potencial. Já temos ações acontecendo, o Prêmio Henrique José de Souza de Literatura é o maior deles até hoje.

“E o que eu vejo no Instituto I-Cultural é que a gente tem uma ferramenta muito poderosa nas mãos, mas com potencial ainda pouco explorado.”

Temos ações que foram desenvolvidas no Sistema Geográfico Sul-Mineiro. Vamos começar com alguns projetos no Sistema Geográfico Itaparicano, que era, a princípio, o nosso foco de atuação, os Sistemas Geográficos, mas já temos trabalhos de abrangência nacional, como é o caso do Prêmio Henrique José de Souza de Literatura. Estamos, também, desempenhando alguns projetos importantes na sede do Instituto, que hoje é em São Bernardo do Campo. Com este Departamento tivemos, também, algumas ações em parceria.

Eu estive, recentemente, em São Bernardo, com o prefeito Orlando Morando e ele nos colocou a possibilidade de ceder um imóvel para que seja sede física do Instituto Cultural Brasileiro, onde a gente ganharia corpo para poder trabalhar melhor. Cheguei a visitar alguns locais lá, estamos estudando a viabilidade disso. Então, podemos ter uma sede própria para o nosso Instituto que, ainda que seja formado por eubiotas, e que traga os valores eubióticos, é uma instituição à parte, vai trabalhar sempre em paralelo, claro, com a SBE. O Instituto tem uma estrutura própria, por isso precisamos de uma sede própria, a fim de desenvolver os nossos trabalhos.  Pessoas de fora são, igualmente, bem-vindas, para que a gente possa compor essa equipe de trabalho e aí, sim, poder desenvolver todas as ações que estão previstas no nosso Estatuto.

Então, a gente tem um leque de possibilidades para trabalhar, mas que ainda estamos engatinhando nesse sentido, aprendendo com esse processo todo. Eu vejo, hoje, que o maior ganho dentro do Instituto é o Prêmio Henrique José de Souza de Literatura, que já vai agora, em 2024, para sua quinta edição, que já se consolidou como um fenômeno, não só aqui na região de Nova Xavantina, mas é um evento com alcance internacional. Buscamos uma abrangência ainda maior, estruturar melhor. Dá pra fazer muito mais coisas.

“O maior ganho dentro do Instituto é o Prêmio Henrique José de Souza de Literatura, que já vai agora, em 2024, para a sua quinta edição, que já se consolidou como um fenômeno, não só aqui na região de Nova Xavantina, mas já é um evento com alcance internacional.”

Na foto, da esquerda para a direita: Mauro Leslie, Venerável Leonardo Faria Jefferson de Souza e Ezio Garcia. Crédito: Mariana Jarjour B. Jefferson de Souza.

Mauro Leslie: Então, seu pai foi o patrono do I-CULTURAL e da COGEP, deixou dois órgãos, por assim dizer, criados. A COGEP já tem um histórico de realizações significantes, como o Manifesto Eubiótico, o dia Nacional da Eubiose e outras ações. Em relação à COGEP, como o senhor a entende e quais as suas expectativas sobre esse órgão?

Realmente, meu pai foi o patrono, não só da COGEP, como do Instituto Cultural Brasileiro, que hoje leva o nome dele, uma homenagem póstuma que fizemos. Mas dentro da COGEP, eu costumo dizer que são dois patronos: meu pai e nosso saudoso Irmão, Márcio Rosa, que foi um dos idealizadores da COGEP, assim como outros irmãos, o próprio Ézio Garcia, que está aqui conosco hoje; nosso Irmão José Ribeiro, que até recentemente era o Coordenador do Sistema Geográfico do Roncador, e outros irmãos.

“Realmente, meu pai foi o patrono, não só da COGEP, como do Instituto Cultural Brasileiro, que hoje leva o nome dele.”

Mas eu sinto que os dois tomaram isso como missão, de trazer a ética e a política para o nosso meio, e conseguimos avançar em muitas áreas dentro da COGEP. O Manifesto Eubiótico, o Dia Nacional da Eubiose, as relações com as instituições, isso tudo já está consolidado. E eu vejo que a gente pode trabalhar mais dentro das expectativas da COGEP, consolidar aquilo que já vem sendo feito e trazer cada vez mais esse assunto para o nosso meio, mas de uma forma sempre agregadora, colocando a questão do apartidarismo, trazendo a importância da gente discutir a política, que é sempre um tema atual.

Ainda que muitos não gostem de falar sobre isso, a COGEP está aí para traduzir essas demandas externas para o nosso meio institucional, de uma forma agregadora, positiva, apartidária. No mais, é consolidar mesmo esses processos que já foram iniciados – bem iniciados. Além do Dia Nacional, temos vários dias Municipais e Estaduais da Eubiose, várias honrarias que recebemos aí pelas Câmaras ao redor do Brasil, Assembleias Legislativas. Temos o projeto de buscar representantes da Eubiose nos três poderes.

Sabemos que não é uma tarefa fácil, mas já tivemos alguns irmãos que conseguiram esse feito. Principalmente, quando a gente quer trabalhar isso pelos meios legais, da forma correta. Então, às vezes, não conseguimos abertura, mas pretendemos ter representantes nas prefeituras, câmaras e assembleias. Enfim, consolidar esses projetos que já foram iniciados dentro da COGEP.

Mauro Leslie: Sabemos que a Política tem um papel fundamental, pois é ali que se estruturam as normas e ações públicas, tais como a saúde, educação, segurança, tecnologia, artes e tudo o mais. Tem papel significativo na criação da ambiência para a consolidação da Fraternidade Universal e de uma humanidade melhor. Seu avô, Hélio, e seu pai, foram candidatos a cargos eletivos no sistema eleitoral brasileiro. É bom que membros da SBE busquem cargos eletivos? Como o senhor vê essa relação e o papel da política no sentido geral?

“Estamos distantes do que o Professor imaginava como sistema de governo ideal, que é a Sinarquia, mas enquanto isso, podemos trabalhar plantando boas sementes dentro do meio político, tão carente de bons exemplos”

Muito bem lembrado, porque esse exemplo vem dos nossos dirigentes. O Venerável Hélio tinha uma visão única sobre a política, e parecia que ele sempre estava um passo à frente daqueles acontecimentos que viriam em seguida. Então, era muito interessante ouvi-lo falar sobre política, ele era mesmo um entusiasta.

Ele foi vereador em São Lourenço por um mandato, já como Presidente da SBE, conciliando as atividades. Foi suplente de deputado, e meu pai, também, tentou uma vaga na Câmara Legislativa de São Lourenço e não entrou por questão de legenda partidária, mas teve uma votação muito expressiva na época.

E a gente contar com representantes que levam os valores da Eubiose pra dentro desse cenário, seria a situação ideal. Porque sabemos que nós estamos muito distantes do que o Professor imaginava como sistema de governo ideal, que é a Sinarquia. Mas enquanto não chegarmos lá, podemos trabalhar plantando boas sementes dentro do meio político, tão carente de bons exemplos.

Mauro Leslie: Bons relacionamentos e parceria com o meio público são fundamentais?

Sim, eu entendo que é sempre uma via de mão-dupla. Ainda que não esperemos nada desses órgãos, uma vez inseridos numa comunidade, numa cidade, estado, a gente depende, também, das políticas públicas para poder desempenhar o nosso papel, sempre buscamos as instituições que possam fornecer os meios para a gente trabalhar.

Em muitas cidades temos um bom relacionamento, sim, com as prefeituras, a exemplo daqui, Nova Xavantina. A prefeitura, recentemente, aprovou uma lei que concede um benefício a cada dois anos num valor de 20 salários-mínimos, para custear o Prêmio Henrique José de Souza de Literatura. Em São Lourenço, nós temos uma proximidade grande com a prefeitura, através da sede social da SBE, abrindo para eventos da prefeitura, educativos e culturais. Tivemos, no ano passado, uma semana da Mostra de Teatro, em que a Secretaria de Educação de São Lourenço utilizou a nossa sede.

Na foto, da direita para a esquerda: Ex-Primeira Dama de Nova Xavantina (MT), Sra. Mirian Abreu da Silva Caetano; ex-prefeito de Nova Xavantina (MT) em dois mandatos, Sr. Gercino Caetano Rosa; os Veneráveis Selene Jefferson de Souza e Hélio Jefferson de Souza Filho (Helinho); o então presidente da Câmara Municipal de Nova Xavantina (MT), vereador Sr. Ney Welinton (autor da lei municipal que tornou o dia 10 de agosto o Dia da Eubiose em Nova Xavantina (MT), lei sancionada pelo então prefeito Sr. Gercino) e o então Coordenador do SGR, Sr. José Ribeiro, na Convenção da SBE (2014), em Nova Xavantina (MT). Crédito da imagem: MCR Produtora – Gilberto Freitas.

Então, a gente tem estreitado esses laços com as prefeituras, com os governos dos locais onde estamos inseridos, porque, mesmo que a gente não faça algo esperando o retorno, sempre ficamos naquela expectativa de, pelo menos, um reconhecimento do nosso trabalho, porque sabemos que onde a Eubiose está mais presente (de novo o exemplo de São Lourenço e Nova Xavantina), a gente movimenta a economia da cidade durante as Convenções, nos hotéis, restaurantes, etc. Então, o que queremos é, simplesmente, um reconhecimento do nosso trabalho enquanto instituição séria, que está presente naquele local, trabalhando em prol daquela cidade, da população como um todo, não só dos membros da SBE, levando mais cultura e educação, através dos nossos ensinamentos.

Esse reconhecimento é importante, porque a gente sabe que faz a diferença onde estamos presentes.

A equipe da Revista PoliÉtica agradece a disposição do Presidente da Sociedade Brasileira de Eubiose em nos conceder esta entrevista. A certeza que ficou em todos nós, depois dessa experiência, foi a da perspicaz visão da realidade, e da humildade e simplicidade do Venerável Leonardo Faria Jefferson de Souza. Certamente, à altura do trabalho em que está à frente.

Nossos textos representam, exclusivamente, as ideias e opiniões dos idealizadores da Poliética.

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