12- Contra esta doutrina, por enquanto a única que nos explica razoavelmente o porquê da vida, existe a fraca objeção da intervenção do livre arbítrio para contrariar a doutrina evolucionista da alma. Esta objeção, não contraria, antes, a justifica.
Se o livre arbítrio é este poder que tem o homem de escolher conscientemente a prática do bem ou do mal, é claro que cada um sabe distinguir perfeitamente o valor de suas ações.
O homem que num momento de cólera levanta o braço criminoso para ferir o seu semelhante, é vítima de um ímpeto que não soube ou não quis sopitar.
Um segundo de reflexão evitaria o desatino, mas o impulso é animal, é instintivo, ao passo que a reflexão é humana, é inteligente e sujeita a uma evolução que demanda grande esforço e perseverante treino. Se o homem, prestes a tornar-se um assassino, pensar no abismo em que vai precipitar-se, com certeza abaixará o seu braço quase homicida e não onerará o seu débito moral, com mais este compromisso.
Entre outras muitas coisas em que pensará, no momento psicológico do atentado, figurará a ideia do fatal pagamento, que dele ou de seus filhos, será infalivelmente exigido.
Ora, os esforços inauditos praticados para o nosso aperfeiçoamento são pequenos descontos feitos nas nossas dívidas.
Desde que, pelo livre arbítrio, procuramos praticar o bem e a caridade, ativando os nossos conhecimentos na ânsia da perfeição e do progresso e desembaraçandonos espontaneamente dos desejos e prazeres, resgatamos de algum modo a dívida contraída. Esta dívida e os seus parciais descontos, os espiritualistas chamam de “karma”, ou seja, a lei de causa e efeito.
Se pela explicação inteligente do nosso livre arbítrio não anularmos totalmente essa lei, poderemos reduzila grandemente, sem com isto alterar-se os desígnios da Criação.
É na lei de Karma que repousam os sólidos alicerces da Reforma Social.
Desde que uma sociedade não distribua, pelos indivíduos que a constituem, o indispensável conforto e bem-estar, deve ser reformada de modo a assegurar-lhes a felicidade que eles não têm.
E a nova legislação, que venha estabelecer o equilíbrio da riqueza social, a sua distribuição equitativa pelo povo, realizando com fatos a democratização dos governos, só encontrará base firme na aceitação da doutrina, promove o despertar da consciência humana, estimulando a atividade da sua espiritualidade e o aperfeiçoamento do seu caráter.
Desesperada, essa consciência que no nosso povo sempre viveu latente ou adormecida não será difícil reconhecer que a vida é um prêmio ou um castigo transitórios, e daí o dizer-se “que cada povo tem o governo que merece”.
Poderemos ainda relembrar que as leis de causa e efeito não se aplicam somente aos indivíduos, mas, ainda às coletividades, constituídas pelas famílias, pelas cidades, pelas nações, etc.
No entanto, o nosso único desejo atual é frisar que a verdadeira felicidade humana só poderá ser desfrutada pelo conhecimento da lei da reencarnação, após o despertar da nossa consciência.
Eis o resumo da Mensagem de Dhâranâ. Eis as palavras que lançamos no coração de todos os brasileiros, tendo os olhos voltados para a imagem dulcíssima do Supremo Mestre, quando fazia à turba que o acompanhava, o célebre Sermão da Montanha, referindo-se ao Semeador:
“Eis que o semeador saiu a semear. E quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na. E, outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda; mas vindo o sol, queimou-se porque não tinha raiz. E outra caiu em espinhos e os espinhos cresceram e sufocaram-na. E outra caiu em terra boa e deu fruto: um grão produziu cem, outro sessenta e outro trinta”.
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 13.3.8)
Que esta mesma imagem do Senhor de Compaixão projete a Sua Sombra calma e confortadora pelo campo em que procuramos semear.
Que a Sua Infinita Bondade vibre suavemente sobre todos os bons semeadores… Que, Ele derrame as Suas Bênçãos Misericordiosas sobre os gérmens agora espalhados, a fim de os fazer crescer e multiplicar… Que, finalmente, permita o desabrochar da consciência brasileira até agora adormecida, iluminando os olhos anuviados dos Filhos desta Terra de Promissão e afinando os seus desacautelados ouvidos!…
Paz, Luz e Progresso, em Harmonia de pensamento a toda a Humanidade, a todos os Seres, Dhâranâ Sociedade Mental-Espiritualista
Chegamos ao fim da série de 12 capítulos pertencentes ao artigo “Mensagem de Dhâranâ ao povo brasileiro”, escrito pelo Professor Henrique José de Souza, em 1925, na revista Dhâranâ n° 0.
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